06/08/2018 - 11:00
Uma informação que antes poderia levar horas para ser divulgada, agora é passada para frente em questão de minutos. Desde maio, os alertas de incêndio em lavouras ganharam um importante aliado, principalmente a cultura da cana-de-açúcar, uma das que mais sofrem com o fogo. Começou a funcionar o primeiro sistema computacional do País, capaz de fazer análises de prevenção e de detecção de queimadas em tempo real. “Os incêndios no campo impactam o meio ambiente e a população em sua volta, além de prejudicarem as plantações e a indústria de processamento da cana-de-açúcar”, afirma Pierre Santoul, diretor-presidente da Tereos Açúcar e Energia Brasil. “Por isso, decidimos investir numa solução tecnológica que nos auxiliasse nas ações de prevenção e combate às ocorrências.”
Controlada pela cooperativa francesa Tereos e dona de sete usinas de processamento de cana-de-açúcar na região de São José do Rio Preto (SP), a Tereos apresentou os primeiros resultados do projeto-piloto Orion (sigla para o termo em inglês Observed Remote Information from Orbital Navigation). A tecnologia foi desenvolvida pela startup GMG Ambiental, de São José do Rio Preto (SP). A companhia sucroenergética investiu R$ 1 milhão em serviços de imagens e na compra de equipamentos que serviram para dar suporte ao desenvolvimento da tecnologia. O Orion faz leituras de georreferenciamento orbital de 13 satélites. Segundo o geólogo Edilberto Bannwart, diretor de Sustentabilidade da Tereos, são analisadas informações como o nível de umidade do ar, a direção e a velocidade do vento, e a temperatura da região monitorada. “A ferramenta pode acessar, inclusive, um banco de imagens para identificar as áreas mais vulneráveis e em qual momento a situação pode ficar mais crítica”, diz Bannwart.
Apesar de ter sido feita a pedido da empresa, a inovação pode monitorar qualquer área produtiva ou de reservas florestais. Uma ajuda de grande valia para o País. No ano passado, o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, identificou o segundo maior recorde histórico de incêndios no País, nos últimos 17 anos. Foram 261 mil focos. O pior ano foi 2004, com 270,4 mil focos de incêndio. “Mas o ano passado também foi bastante crítico para nós”, diz Bannwart. Na região de São José do Rio Preto, a média pluviométrica foi de apenas dez milímetros, entre os meses de junho e agosto. No mesmo período do ano anterior, a média atingiu 100 milímetros de chuva.
Por conta disso, a Tereos calculou um prejuízo de cerca de R$ 5 milhões em decorrência de fogo nas plantações da safra 2016/2017. Para ajudar os produtores, juntamente com o Orion, a companhia anunciou também o início da campanha “Incêndios, sua ação pode mudar esse cenário”. A iniciativa visa a engajar a população vizinha às áreas produtivas na prevenção e no combate a incêndios. Na maioria das vezes, as queimadas são provocadas acidentalmente por pontas de cigarro jogadas nas rodovias ou por pequenas queimadas de moradores vizinhos aos canaviais. “Às vezes, pequenas ações, como não jogar cigarro na estrada, podem valer um safra”, diz Bannwart.