O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2021, de um avanço de 4,8% para 4,5%. Para 2022, a projeção diminuiu de uma elevação de 1,8% para 1,1%. As estimativas anteriores foram divulgadas em setembro.

“A redução da previsão para este ano levou em conta os indicadores de atividade econômica do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do terceiro trimestre e de outubro, que vieram abaixo do esperado”, justificou o Ipea em nota de divulgação da Visão Geral da Conjuntura, análise trimestral da economia brasileira publicada nesta quarta-feira, 22.

O instituto estima que tenha havido melhora na atividade econômica em novembro, o que atenuaria os efeitos negativos do desempenho de outubro no agregado do último trimestre de 2021.

O Ipea estima que a produção industrial tenha crescido 0,6% em novembro ante outubro, e o volume de serviços prestados tenha avançado 0,4%. As vendas do comércio varejista teriam alta de 0,3%, embora, no varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, a expectativa seja de queda de 0,7%. Como resultado, o Monitor do PIB, apurado pela Fundação Getulio Vargas com a mesma metodologia de cálculo das Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, teria uma expansão de 0,4% em novembro ante outubro, após a queda de 0,7% registrada no mês anterior.

Os técnicos do órgão lembram que o setor manufatureiro, particularmente a indústria de transformação, segue enfrentando restrições pelo lado da oferta. A desorganização mundial das cadeias produtivas ainda provoca escassez e encarecimento de insumos, enquanto a crise hídrica permanece pressionando os preços da energia elétrica.

“O consumo de bens, por sua vez, tem sido afetado negativamente pelo aumento da inflação, que segue pressionando o orçamento das famílias. Refletindo esse quadro, a confiança dos agentes diminuiu nos últimos meses. Além da queda generalizada entre os empresários, a confiança das famílias também sofreu deterioração. Nossas previsões sugerem, no entanto, com base nos indicadores disponíveis até o momento, que o nível de atividade em novembro deve apresentar crescimento, com exceção do comércio varejista ampliado”, avalia o Ipea, na Visão Geral da Conjuntura.

O instituto prevê uma alta de 0,1% no PIB quarto trimestre deste ano ante o terceiro trimestre.

“Pesa sobre o cenário do quarto trimestre a inflação mais alta do que o esperado anteriormente, o que afeta o poder de compra e as expectativas dos consumidores. O consequente ciclo de aperto monetário mais rigoroso terá efeitos que perdurarão pelos trimestres subsequentes, dada a defasagem dos mecanismos de transmissão da política monetária para a atividade econômica”, justificou o órgão.

Para o fechamento de 2021, a maior revisão ocorreu na projeção para a agropecuária, que fechará 2021 com queda de 1,2%, ante uma previsão anterior de crescimento de 1,2%. A diferença é explicada pelos problemas climáticos que afetaram a safra, pelo pior desempenho na produção de bovinos e pela revisão do crescimento do setor em 2020 nas Contas Nacionais do IBGE, que aumentou fortemente a base de comparação para o crescimento deste ano.

A projeção para o PIB da indústria passou de alta de 5,4% para 4,9%, enquanto a do setor de serviços foi revista de 4,7% para 4,5%. Em 2022, a agropecuária cresceria 2,8%, a indústria ficaria estagnada (0,0%), e os serviços teriam avanço de 1,3%.

Sob a ótica da demanda, o Ipea prevê alta de 3,4% no consumo das famílias em 2021, seguido de avanço de 1,3% em 2022. O consumo do governo aumentaria 1,9% este ano, para depois crescer 1,7% ano que vem. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida dos investimentos no PIB) teria elevação de 17,6% em 2021, mas ficaria praticamente estável ano que vem (0,1%). As exportações cresceriam em 2021 (6,8%) e 2022 (1,9%), assim como as importações (12,3% em 2021 e 2,4% em 2022).

Segundo o Ipea, a piora nas expectativas para o PIB de 2022 é decorrente do impacto negativo da elevação da inflação sobre o poder de compra das famílias e da necessidade de elevação mais acentuada da taxa de juros, que já encarece o crédito.

“Por outro lado, o Auxílio Brasil e o aumento da população ocupada podem influenciar positivamente a demanda, que também poderá ser estimulada pelo esperado aumento dos investimentos em infraestrutura”, ponderou o instituto em nota.

As previsões para a inflação no Brasil também foram revistas em relação às últimas projeções, divulgadas em novembro. A expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021 passou de 9,8% para 10,0%, enquanto que para o Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC) subiu de 10,1% para 10,2%. Para 2022, as projeções para o IPCA e o INPC foram mantidas em 4,9% e 4,6%, respectivamente.

“A manutenção das taxas é baseada na estimativa de acomodação dos preços do petróleo e das demais commodities, combinada à menor probabilidade de efeitos climáticos intensos e à projeção de um aumento da safra brasileira, que devem resultar em pressão menor sobre combustíveis, energia elétrica e alimentos. De certa forma, a descompressão inflacionária já é percebida em algumas categorias no final de 2021, como o anúncio feito pela Petrobras de redução no preço das refinarias. Porém, há riscos que seguem associados, externamente, à possibilidade de novos aumentos de preços de commodities e, internamente, à percepção de fragilidades na política fiscal, além do processo eleitoral, com efeitos que podem desencadear maior volatilidade no mercado cambial”, alertaram os pesquisadores do Ipea.

O Ipea estima que a taxa básica de juros, a Selic, suba de 9,25% ao ano ao fim de 2021 para 11,75% ao ano ao fim de 2022. A projeção para a taxa de câmbio é que se mantenha em R$ 5,71 tanto ao término de 2021 quanto de 2022.