08/04/2022 - 21:50
Eficiência produtiva, redução de custos, melhor aproveitamento da biomassa e maior retorno financeiro. Esses são alguns dos principais benefícios alcançados por usinas de açúcar e etanol a partir de atualizações tecnológicas que garantem mais autonomia no processamento de dados. Dessa forma, é possível gerenciar com mais precisão cada etapa do processo produtivo, se antecipar a possíveis problemas, otimizar as tomadas de decisão e ainda aproveitar da melhor maneira o potencial humano dentro de cada unidade industrial. Tudo isso acontece a partir do momento em que as empresas do setor aumentam a aposta em gestão da informação.
Um exemplo é a Tereos Açúcar & Energia Brasil, que processou 18,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2019/20. Entre 2016 e 2021, foi implementado em todas as unidades produtivas da empresa (Vertente, São José, Tanabi, Mandu, Cruz Alta, Andrade e Severínia) um software de gestão industrial que é um otimizador em tempo real. A gestão mais precisa das informações e o consequente ganho em eficiência proporcionou uma redução de 1% a 3% no consumo de vapor nos turbogeradores das plantas, o que resultou em menor consumo de bagaço na geração de bioeletricidade.
Para o superintendente de Operações Agroindustriais da Tereos, Everton Carpanezi, o gerenciamento eficaz da indústria está diretamente relacionado à capacidade de tomar decisões em tempo real. “Vivemos em um ambiente VUCA (sigla em inglês para volátil, incerto, complexo e ambíguo) com desafios constantes como variações na quantidade e na qualidade da matéria-prima, quebras ou perdas de eficiência em equipamentos, é um otimizador em tempo real. A gestão mais precisa das informações e o consequente ganho em eficiência proporcionou uma redução de 1% a 3% no consumo de vapor nos turbogeradores das plantas, o que resultou em menor consumo de bagaço na geração de bioeletricidade.
Para o superintendente de Operações Agroindustriais da Tereos, Everton Carpanezi, o gerenciamento eficaz da indústria está diretamente relacionado à capacidade de tomar decisões em tempo real. “Vivemos em um ambiente VUCA (sigla em inglês para volátil, incerto, complexo e ambíguo) com desafios constantes como variações na quantidade e na qualidade da matéria-prima, quebras ou perdas de eficiência em equipamentos, restrições econômicas, ambientes e de segurança”, afirmou. Segundo ele, o sistema modela a planta física em uma versão virtual com todos os equipamentos e processos para simular seu comportamento e indicar a melhor forma de operá-la, considerando todos os aspectos envolvidos. “O Brasil enfrentou no ano passado a pior estiagem dos últimos 91 anos. Nesse cenário, o otimizador em tempo real contribuiu com o balanço energético sendo essencial para enfrentar a crise hídrica.” Segundo o executivo, a maior eficiência energética alcançada com essa tecnologia ainda reduziu a emissão de gases.
O Software atua como um engenheiro virutal dentro da usina
AUTONOMIA O software adotado pela Tereos é o S-PAA, desenvolvido pela empresa Soteica do Brasil e já utilizado em cerca de 75 das 330 usinas que processam cana no Brasil. De acordo com o diretor e cofundador da companhia, Pedro Martins Alves, o programa é como um engenheiro virtual dentro da planta. “O sistema abrange em torno de 125 aplicações que podem ser realizadas, na maioria, on-line. Mais do que fazer o monitoramento em tempo real das variações de demanda de vapor nas caldeiras, a tecnologia indica o que deve ser feito para obter produtividade mais alta, dependendo da qualidade da cana”, disse o executivo.
Essa autonomia tem gerado bons resultados nas unidades industriais da SJC Bionergia. São três indústrias em duas usinas (Rio Dourado e São Francisco), ambas em Goiás, que processam cerca de 9 milhões de toneladas de cana por ano. Segundo o gerente industrial corporativo da empresa, Marcus Lages, entre as principais vantagens dessa ferramenta estão a agilidade e a antecipação nas tomadas de decisão em todos os processos: extração e moagem, fluxo, tratamento de caldo e evaporação, fermentação e destilação. Um ponto crucial, por exemplo, é o volume de água de embebição para fazer a extração do açúcar. “Sem o sistema, a cada quatro horas o operador fazia a verificação e corria o risco de colocar água demais ou de menos. Com o S-PAA tudo é feito com precisão, inclusive a regulagem da quantidade de vapor. Assim os equipamentos reduzem as perdas na geração de energia”, afirmou.
Em termos financeiros, essa exatidão gera ganhos acima de R$ 1 por tonelada de cana processada. Diante do volume com quem trabalham essas empresas, isso faz uma grande diferença. Mais ainda quando se considera a expectativa de safra para a temporada 2021/22, que deve passar de 568 milhões de toneladas, de acordo com levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Cabe destacar que todas essas vantagens operacionais agregam valor ao processo industrial e às pessoas. Para Everton Carpanezi, da Tereos, esse tipo de tecnologia é disruptiva e tira toda a operação da zona de conforto. “Mas a tecnologia representa só 10% da transformação digital, 30% estão em mudanças de processos e da forma como trabalhamos e 60% são pessoas e habilidades”, disse. Por mais e melhores informações que a tecnologia disponibilize, a tomada de decisão ainda pertence ao ser humano, segundo Marcus Lages, da SJC Bioenergia. “Até reduz a pressão sobre o operador. A indústria fica funcionando como um avião, depois que entra na condição de cruzeiro o sistema toma conta e o responsável só assume o controle se houver alguma turbulência.”
LAVOURAS O controle mais eficiente e preciso das informações não se restringe ao processo industrial do setor sucroenergético, esse processamento vem desde os canaviais. Nesse campo o grande desafio é lidar com os efeitos climáticos, pois os produtores – agricultores ou as próprias usinas – não têm domínio sobre falta ou excesso de chuvas, geadas e incêndios. Embora não possam evitar tais eventos, é possível entendê-los e ver a probabilidade de ocorrerem. Essa é a opinião da diretora-executiva da Agrymet, Bárbara Sentelhas. A empresa faz um balanço hídrico das lavouras que envolve produtividade, desempenho, condições de solo, disponibilidade de água suficiente para as plantas ou em demasia que impeça a entrada de máquinas. “A ideia é termos uma análise mais ampla e não ficar apenas em cima da questão da chuva”, afirmou.
A Agrymet, que é especializada em pesquisa científica e provisão de dados agrometeorológicos, utiliza informações disponíveis tanto na base pública quanto privada. “Nossos robôs comparam esses dados e analisam se há disparidades, algo muito fora do comum”, disse Sentelhas. Os benefícios dessas avaliações são potencializados a partir da parceria que a empresa tem com a Horiens, companhia dedicada à gestão de riscos e seguros para indústrias de vários segmentos. O trabalho conjunto é capaz de prever produtividades da próxima safra, trazendo um mapeamento dos valores possíveis e quais as probabilidades de ocorrerem. Quanto maior for a precisão nessa estimativa, melhor também será a condição de negociar um contrato de seguro agrícola.