21/06/2022 - 21:55
O Instituto Nacional de Criminalística (INC), da Polícia Federal, trabalha em um modelo 3D da cena do crime que vitimou, no início deste mês, na Amazônia, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips. Elaborado com base em escaneamento do local onde os corpos foram encontrados, o modelo tenta esclarecer a dinâmica dos acontecimentos.
Um exame de antropologia forense, que pode estimar a data das mortes de Bruno e Dom e a que distância os disparos foram feitos, tem previsão de ficar pronto na próxima semana. O laudo do local, que agrega todas as provas submetidas à perícia, no entanto, deve demorar no mínimo 30 dias para ser concluído, em razão de seu nível de detalhamento.
O documento, que pode contar com vídeos 3D, vai testar as versões relatadas até agora pelos três pescadores presos temporariamente por suspeita de envolvimento no duplo homicídio – Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”; Oseney Oliveira, o “Dos Santos”; e Jeferson Lima, o “Pelado da Dinha” -, além das cinco pessoas que teriam ajudado a ocultar os corpos de Bruno e Dom na região do Vale do Javari, no Amazonas. O pescador Pelado entrou em contradição ao prestar informações aos investigadores (mais informações nesta página).
O diretor do INC, Ricardo Guanaes Cosso, disse que o barco usado por Bruno e Dom, encontrado no domingo passado, 19, a 20 metros de profundidade no Rio Itaquaí, também será levado “para dentro” do laudo completo sobre o caso. Peritos de Brasília irão hoje para o Amazonas para realizar trabalho de campo no local do crime, inclusive com o escaneamento da embarcação.
“Tudo, tanto os corpos, o local do crime todo, o local central onde foram encontrados os corpos, e as adjacências, a gente transforma em um modelo 3D”, afirmou Cosso. “Então a gente consegue estudar a cena do crime. Praticamente, a gente consegue entrar na cena do crime virtualmente. Com óculos e tudo.”
Detalhes
Segundo o diretor do INC, o escaneamento 3D preserva digitalmente o local e permite estudar mais detalhadamente a dinâmica dos acontecimentos. “É tão detalhista que, se você põe um óculos 3D, é como se você estivesse na cena de novo. Inclusive se você quiser medir alguma coisa, olhar alguma coisa que você não tenha visto na hora, visualmente e fisicamente daria para traçar alguma medida, alguma variável que não se tenha observado”, disse Cosso.
Com o estudo antropológico forense, que deve ficar pronto na próxima semana, será possível confirmar a distância e a angulação dos tiros. “Levando isso para o modelo 3D, a gente consegue colocar a arma no local dela, com relação ao corpo, com uma precisão boa”, disse o diretor do INC.
Em reconstituição, suspeito se contradiz
O pescador Amarildo Oliveira, o “Pelado”, entrou em contradição durante a reconstituição dos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips, a afirmar que participou apenas da ocultação dos corpos, e acusar Jeferson Lima, o “Pelado da Dinha” de ser o autor dos disparos. Em depoimento à Polícia Federal, ele havia confessado a autoria dos tiros.
Durante a reconstituição, um delegado da PF narra que Bruno e Dom desciam o rio Itaquaí no barco quando foram avistados por Amarildo e Jeferson. Segundo Amarildo, Bruno e Jeferson começaram a discutir. Ao ser questionado se viu a hora em que Jeferson atirou, Amarildo confirma, e diz que Bruno, que tinha porte de arma, teria revidado.
Neste momento, ele entra em nova contradição. No início, diz que viu a discussão a distância. Depois, admite que estava no barco com Jeferson. Bruno foi atingido por três tiros e Dom foi morto por um disparo. O vídeo da reconstituição foi revelado anteontem pelo Jornal Nacional, da TV Globo.