07/10/2022 - 17:54
Na contramão do desempenho do petróleo na sessão, a virada de Petrobras para o negativo no meio da tarde, embora mitigada no encerramento (ON -0,50%, PN -0,09%), levou o Ibovespa a acentuar perdas, acompanhando à distância a queda em Nova York, que chegou a 3,80% (Nasdaq) no fechamento desta sexta-feira. Por lá, prevaleceu a leitura sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos em setembro, divulgada pela manhã, que reforça a perspectiva de alta para os juros na maior economia do mundo.
Aqui, ao fim de uma semana marcada pelo apetite por risco deflagrado, em especial, pela vitória de maioria conservadora para o Congresso, o Ibovespa cedeu nesta sexta-feira 1,01%, aos 116.375,25 pontos, entre mínima de 115.924,33 e máxima de 117.960,40 pontos, saindo de abertura a 117.560,47 pontos. O giro financeiro foi a R$ 35,9 bilhões nesta sexta-feira.
No ano, o Ibovespa acumula agora alta de 11,02% e, apesar da realização de lucros vista nesta sexta-feira, o índice da B3 registrou na semana ganho de 5,76%, após perda de 1,50% no intervalo anterior. Mesmo não tendo alcançado a casa de 7% que chegou a ser vista nos melhores momentos do período, o desempenho semanal foi o melhor desde o registrado entre 8 e 12 de agosto passado, quando o Ibovespa havia subido 5,91%. Quando avançava cerca de 7%, parecia endereçado à melhor semana desde o começo de novembro de 2020, o que acabou não se confirmando.
Apesar da realização moderada vista nesta sexta-feira, Petrobras ON e PN acumularam ganhos de cerca de 13% na semana, bem superiores aos de Vale (ON +4,82%) e de grandes bancos, como Itaú (PN +4,56%) e Bradesco (ON +3,80%, PN +3,28%), no mesmo período. A redução da oferta, anunciada esta semana pela Opep+ para novembro, deu impulso às cotações do petróleo, com ganhos entre 15% (Brent) e 16% (WTI) no intervalo semanal.
“Há de novo a questão dos preços domésticos da Petrobras ante essa recuperação dos internacionais, que pode resultar em defasagem para os combustíveis, algo que o mercado acompanha de perto. Mas a semana foi amplamente positiva não só para Petrobras como também para o Ibovespa, quando se olha o desempenho de fora. Aqui, desde a definição no domingo de um Congresso mais conservador para 2023, positivo para a pauta econômica de interesse do mercado, o índice andou bem”, diz Felipe Moura, sócio e gestor da Finacap Investimentos.
“Semana foi muito positiva, na carona de um resultado mais equilibrado do que mercado aguardava para o primeiro turno das eleições, enxergando que ambos os candidatos (à Presidência) precisam dar aceno mais ao centro (do espectro político). Nenhum dos dois terá carta branca no caso de vitória”, diz Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos.
Apesar do sentimento ainda muito favorável em relação ao desfecho do primeiro turno eleitoral, no fim da tarde acabou prevalecendo a piora do humor em Nova York, onde as perdas chegaram a superar 4% no Nasdaq – ao fim, o índice de tecnologia mostrava queda um pouco menor, de 3,80%, com o Dow Jones em baixa de 2,11% e o S&P 500, de 2,80% na sessão.
Ações que conseguiam mostrar desempenho favorável até o meio da tarde, como Vale (ON -0,05%), não conseguiram escapar ao azedume de Nova York no encerramento, em dia no qual parte das ações de grandes bancos também apararam o desempenho da semana na B3, em baixa nesta sexta-feira entre 0,97% (Santander) e 2,42% (Bradesco ON), à exceção de BB (ON +0,22%) e de Itaú (PN +0,21%) na sessão.
Na ponta negativa do Ibovespa nesta sexta-feira, destaque para Cosan (-8,72%), Petz (-8,33%), Raízen (-6,05%) e MRV (-5,72%). No lado oposto, Cielo (+2,75%), TIM (+1,66%), BB Seguridade (+1,37%) e Americanas (+1,34%). Entre os destaques do noticiário corporativo, a Cosan anunciou compra de 4,9% do total de ações da Vale. E planeja atingir participação de 6,5%, com a adição de fatia de 1,6% que ainda depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Com o aval, o montante poderá ser convertido em participação direta na mineradora.
O mercado financeiro ajustou seu otimismo sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, mas a expectativa de alta para o Ibovespa segue majoritária no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, 54,55% disseram esperar avanço do índice na próxima semana, ante 75,00% no Termômetro da semana passada. A fatia dos que preveem queda caiu de 25,00% para 18,18%, enquanto os que acreditam em variação neutra representam 27,27% do total – na pesquisa anterior não houve respostas apontando estabilidade.
Nesta semana, nos ombros do alívio proporcionado pela interpretação do mercado aos resultados do primeiro turno eleitoral, o Ibovespa mostrou descolamento, perseverando em alta de segunda à quinta-feira, vindo de ganho superior a 2% na sexta anterior – cinco ganhos consecutivos, portanto. Mesmo com alguma realização de lucros na sessão desta sexta, o desempenho semanal excedeu ao visto em referências do exterior, da Ásia (Nikkei +4,55%) à Europa (FTSE 100 +1,41%) e aos Estados Unidos (S&P 500 +1,51%).
Lá fora, ainda prevalecem dúvidas sobre inflação, grau de elevação dos juros de referência e o efeito que terá sobre o ritmo de atividade, já em desaceleração. Nesta sexta, a leitura do relatório oficial sobre o mercado de trabalho americano em setembro contribuiu para reforçar a aposta em custos de crédito mais altos para conter as pressões inflacionárias, derivadas também de um mercado que roda agora com taxa de desemprego a 3,5%, no menor nível em cinco décadas – o que tem elevado a renda salarial nos Estados Unidos.
“O payroll americano superou o esperado, reforçando as expectativas por tom ainda mais hawkish do Federal Reserve na condução da política monetária e no combate ao aumento de preços, o que se refletiu no dólar”, diz Ariane Benedito, economista especializada em mercado de capitais.
Aqui, a leve retração de 0,1% em agosto ante julho, na pesquisa mensal sobre o varejo divulgada de manhã pelo IBGE, contribuiu para ajuste nas ações do segmento, que estiveram entre as beneficiadas pelo apetite por renda variável desde a segunda-feira. Assim, o índice de consumo (ICON) fechou a sessão desta sexta-feira em queda de 2,35%, bem superior à observada no IMAT, de materiais básicos (-0,37%), que reúne as de commodities.