10/10/2022 - 18:00
Ainda que tenha ficado em segundo lugar no primeiro turno da disputa pelo governo de São Paulo, a vitória de Fernando Haddad (PT) na capital onde foi prefeito, com 44,38% dos votos, deu ao petista uma importante vitória pessoal e também um norte para a campanha. Além de nacionalizar o discurso, ainda colado na imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-prefeito está respaldado agora para destacar feitos de sua gestão, como os mais de 400 km de faixas exclusivas de ônibus, ciclovias e o bilhete para idosos acima de 60 anos ou mais.
Na rádio e na TV, a campanha do petista ressalta os votos dados pelos paulistanos e afirma que “o legado de Haddad na capital não tem comparação com o legado do governo Jair Bolsonaro em São Paulo”. Sem citar diretamente seu adversário, Tarcísio de Freitas (Republicanos), as propagandas ainda tentam emplacar que “quem conhece, vota em Haddad”.
“Quando eu fui prefeito recuperei as finanças da cidade e garanti o maior investimento das últimas décadas na capital. Criei 35 hospitais dia com consultas, exames e cirurgias, tudo no mesmo lugar. Criei o bilhete único mensal e mais de 400 km de faixas e corredores de ônibus. O trabalhador economizou dinheiro e tempo no trânsito. No final, ainda deixei dinheiro em caixa para novos investimentos”, afirma Haddad na TV.
Desde o segundo turno das eleições municipais de 2012, quando foi eleito prefeito de São Paulo, que Haddad não vencia na cidade. Foi assim em 2016, em sua tentativa de reeleição – quando não venceu em nenhuma das 58 zonas eleitorais -, e em 2018, como candidato a presidente.
No primeiro turno, o petista recuperou a preferência não apenas em áreas periféricas, como no Grajaú, no extremo sul, que lhe deu 60,40% dos votos, mas também em áreas mais centrais, como a Bela Vista (52,79%) e Pinheiros (41,31%). Na conta final, Haddad venceu em 44 das 58 zonas eleitorais da capital.
“O resultado é muito importante para Haddad. Em primeiro lugar, claro, porque a capital é o berço político dele. Mas não só por isso. Quando perdeu a reeleição, em 2016, Haddad perdeu para o discurso da antipolítica e da gestão, simbolizados em João Doria. Isso influenciou os eleitores de toda a cidade, até mesmo os que moram nas periferias e tradicionalmente votavam mais no PT”, afirmou a cientista política Tathiana Chicarino.
Professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp), Tathiana cita que a derrota para Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2018 teve outra característica, mais focada no discurso contra o sistema e, consequentemente, contra o PT, que havia vencido quatro disputas seguidas para o Planalto.
“Agora, Haddad consegue recuperar esse eleitorado que parece ter sentido mais os efeitos da pandemia. Essa é uma das hipóteses. A capital e a Região Metropolitana expõem desigualdades acentuadas e muito próximas, com bolsões de riqueza e pobreza convivendo lado a lado. Para outra parcela, as condições materiais de vida estão muito ruins, o que leva as pessoas a questionar se as mudanças de antes foram boas ou não”, avaliou.
Tarcísio somou 32,56% dos votos na capital e venceu em zonas eleitorais localizadas nas áreas mais ricas da cidade, como Jardim Paulista (38,71%), zona oeste; Tatuapé (42,38%), na zona leste; Indianópolis (41,82%), na zona sul; e Santana (43,27%), na zona norte. No Estado, Tarcísio liderou as urnas, com 42,3% ante 35,7% de Haddad.
Ao mesmo tempo em que investe em ressaltar sua experiência no desenvolvimento de políticas públicas na capital, Haddad acentua as críticas sobre a origem e as escolhas de Tarcísio, seguindo a linha de que o segundo turno de uma eleição serve para que o eleitorado faça uma comparação direta entre os candidatos.
Experiência x Desconhecimento
“Quem é melhor para São Paulo? Quem tem compromisso e respeito por nosso Estado ou o quem caiu de paraquedas em São Paulo? Quem mais trabalhou por São Paulo e pelos paulistas, quando teve oportunidade, ou quem fez apenas 18 km de pavimentação em uma estrada federal?”, questiona a nova propaganda, que ainda destaca o fato de Tarcísio não ter respondido onde vota na cidade em São José dos Campos, onde diz morar.
As críticas petistas sobre a atuação de Tarcísio como ministro são basicamente as mesmas feitas pela campanha de Rodrigo Garcia (PSDB) ainda no primeiro turno. Antes de declarar apoio ao ex-ministro e também à reeleição de Bolsonaro, o tucano destacou uma série acusações sobre o trabalho do adversário.
Tarcísio rebate relacionando problemas na gestão de Haddad em São Paulo, como o fato de ele não ter acabado com a cracolândia, promessa feita agora pelo ex-ministro. “Nunca foi tão fácil escolher: Você quer o pior prefeito de São Paulo ou o melhor ministro de Infraestrutura do Brasil? A marca do PT é prometer muito e entregar pouco. Para governar São Paulo, é preciso eficiência e compromisso”, postou o candidato que tem entre suas estratégias reforçar o fato de Haddad não ter sido reeleito e destacar suas metas não cumpridas.