19/10/2022 - 17:57
Estendendo movimento que havia se acentuado em direção ao fechamento de terça-feira, as ações de Petrobras (ON +3,71%, PN +3,54%) voltaram a carregar o Ibovespa nesta quarta-feira, em parte do dia sem o apoio de BB e dos demais bancos, que acabaram por virar para o positivo no fim da tarde (Banco do Brasil ON +0,31%, Bradesco ON +0,72%, Itaú PN +0,03% no encerramento), à exceção de Santander (Unit -0,16%). Mesmo sem a contribuição do setor financeiro na maior parte da sessão, as ações da petroleira já andavam o suficiente para descolar a referência da B3 do dia negativo em Nova York, onde as perdas chegaram nesta quarta a 0,85% (Nasdaq) no fechamento.
Entre mínima de 115.264,36 e máxima de 116.459,14, o índice fechou nesta quarta-feira em alta de 0,46%, aos 116.274,24 pontos, após ter encerrado na terça bem perto do pico do dia, com estatais como Banco do Brasil indo então às máximas da sessão, em alta superior a 5% nos papéis da instituição financeira. Na semana, o Ibovespa avança agora 3,75%; no mês, 5,67% e, no ano, 10,92%. O giro financeiro ficou em R$ 26,7 bilhões nesta sessão, em que o índice da B3 subiu pelo terceiro dia seguido.
A leitura do mercado é a de que as mais recentes pesquisas de intenção de voto – parte das quais mostrando encurtamento da distância entre Lula e Bolsonaro – contribuem para manter sobre a mesa um cenário de eventual continuidade do governo e mesmo de retomada de pautas como a das privatizações: uma combinação que animou na terça o mercado no fim do dia e, nesta quarta, ainda ajudou o Ibovespa a se descolar da cautela externa.
“Esse movimento visto especialmente nas ações de estatais é um tanto exagerado, trazendo distorção no curto prazo. A cautela lá fora ainda dá o tom, com muitos fatores de incerteza, e o Ibovespa, depois de um impulso inicial do resultado do segundo turno, vinha acompanhando ultimamente o sinal externo. Acho que essa mudança vista nas pesquisas pode estar sendo exagerada”, diz André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos.
Ele observa também que, embora o mercado se anime com a possibilidade de um segundo mandato para Bolsonaro, as consequências de tal cenário tendem a ser não lineares para os ativos. “O mercado olha com muito bons olhos a simpatia do Guedes (ministro da Economia, Paulo Guedes) em mexer na ‘casca’ da Petrobras. Uma privatização silenciosa de certa forma já vem ocorrendo há algum tempo, como nas refinarias e na venda de um ativo como a BR Distribuidora. Há expectativa de que, se continuar, o governo possa oferecer ações de forma a deixar de ter participação majoritária. Qualquer fração de Petrobras envolve muito dinheiro”, diz Luzbel.
Tal viés otimista se combinou na sessão desta quarta com recuperação dos preços do petróleo, após queda da commodity no dia anterior – tanto a referência global (Brent) como a americana (WTI) registraram ganhos acima de 2% na sessão. Assim, as ações de Petrobras tiveram impulso extra, com os futuros do Brent negociados em torno de US$ 92 por barril.
Os estoques de petróleo nos Estados Unidos tiveram queda de 1,725 milhão de barris, a 437,357 milhões de barris, na semana encerrada em 14 de outubro, informou nesta quarta o Departamento de Energia (DoE, na sigla em inglês) do país. O resultado surpreendeu analistas consultados por The Wall Street Journal, que esperavam alta de 1,7 milhão de barris no período.
Dessa forma, com a recuperação das cotações da commodity, as ações ON e PN da estatal se mantiveram na ponta do Ibovespa ao longo do dia, ao lado de nomes como 3R Petroleum (+5,96%), TIM (+4,68%), PetroRio (+3,72%), Telefônica Brasil (+3,38%), BRF (+2,72%) e Copel (+2,47%). No lado oposto, Americanas (-6,81%), Qualicorp (-6,65%), Yduqs (-5,62%), Via (-4,40%), Gol (-3,18%) e Petz (-3,13%). O dia foi negativo também para Vale (ON -1,18%) e para a siderurgia (CSN ON -2,20%, Usiminas PNA -2,00%, Gerdau PN -1,53%).
Destaque na agenda externa desta tarde, “o livro Bege dos EUA – relatório divulgado pelo Fed sobre as condições econômicas do país – indicou que as perspectivas para a atividade econômica ficaram mais pessimistas por conta das crescentes preocupações com o enfraquecimento da demanda”, observa o economista Rafael Perez, da Suno Research. “O nível de atividade teve expansão modesta em relação ao último relatório. O mercado imobiliário tem sido bastante afetado e os empréstimos bancários também vêm caindo com a alta dos juros (nos EUA)”, acrescenta o economista.
Mesmo antes da divulgação do sumário sobre as condições americanas, o sinal do exterior já era negativo, com perdas, ainda que moderadas, observadas desde a sessão asiática à da Europa e também dos Estados Unidos. “O mercado externo recuou devido a dados de inflação na Europa que sugerem mais aperto monetário à frente. E também a alta no preço do petróleo, que pressiona ainda mais a inflação global. Os juros americanos voltaram a subir forte, e pressionaram os ativos de risco”, diz Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora.