O Bradesco fechou o quarto trimestre de 2022 com lucro líquido recorrente de R$ 1,595 bilhão, uma queda de 75,9% em relação ao mesmo período de 2021, e de 69,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior. O resultado do banco foi fortemente afetado por um cliente de atacado, que não teve o nome citado, e que teve todo o crédito provisionado – pelo movimento, é possível inferir que trata-se da Americanas.

“Com os recentes eventos envolvendo um cliente Large Corporate específico, ocorridos no início de 2023, a Administração reavaliou os riscos inerentes e, de forma prudencial, provisionou 100% da operação, afetando o lucro do 4T22”, afirma o banco em informe de resultados. De acordo com o Bradesco, o crédito junto a esse cliente era de R$ 4,9 bilhões.

A Americanas entrou em recuperação judicial em janeiro, com dívidas de R$ 48 bilhões. O Bradesco é o banco com a maior exposição absoluta à companhia. O Itaú, que tinha R$ 2,8 bilhões a receber, também optou por provisionar todo o crédito. Por sigilo bancário, as instituições não podem citar a companhia nominalmente.

Este fator fez com que as provisões do Bradesco contra a inadimplência tivessem um salto para R$ 14,881 bilhões no trimestre, mais de quatro vezes o volume registrado no mesmo período do ano anterior. Sem este caso, teriam sido de R$ 10,030 bilhões, refletindo o aumento da inadimplência. O resultado operacional do Bradesco no trimestre ficou negativo em R$ 99 milhões. No ano anterior ficou positivo em R$ 10,283 bilhões.

Em base anual, o banco viu a sua margem financeira cair 1,7%, para R$ 16,677 bilhões. O indicador mede os ganhos da instituição com operações que rendem juros.

A margem com clientes subiu 18,3, para R$ 17,480 bilhões, diante do aumento da carteira de crédito e também de um mix de produtos mais rentável, mas também de maior risco, de acordo com o banco. Esse risco foi diminuído no segundo semestre, o que reduziu em 0,3% a margem com clientes em um trimestre.

Na margem com mercado, que reflete o resultado da tesouraria, o Bradesco teve perda de R$ 803 milhões. O resultado foi provocado pela variação das posições de ativos e passivos da instituição. O spread foi de 9,8%, alta de 0,7 ponto porcentual em um ano, e queda de 0,3 p.p. em um trimestre.

Potencial

“Ao final do exercício, chegamos a um lucro líquido de R$ 20,7 bilhões, apesar da provisão integral para um cliente específico”, disse em nota o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, que disse que o banco tem muitos potenciais de negócios a explorar.

Ainda de acordo com ele, neste ano, as provisões devem acompanhar o crescimento da carteira, e no atacado, devem passar por uma normalização. “O Bradesco possui historicamente uma importante exposição aos segmentos de baixa renda e pequenas empresas. Nós consideramos esse posicionamento de mercado estrategicamente correto, mesmo que neste ciclo estejamos sofrendo com a inadimplência”, ressaltou.

Segundo o executivo, a inadimplência teve um crescimento mais rápido que o esperado no ano passado, agravada pela inflação em alimentos e em combustíveis.

Carteira e rentabilidade

Em dezembro, a carteira de crédito do Bradesco estava em R$ 891,933 bilhões, um aumento de 9,8% em relação ao terceiro trimestre do ano passado, e alta de 1,5% na comparação com o período de três meses encerrado em setembro.

No final do quarto trimestre de 2022, os ativos do conglomerado somavam R$ 1,830 trilhão, um aumento de 8% em base anual, e contração de 3,2% em termos trimestrais.

O patrimônio líquido do Bradesco era de R$ 154,263 bilhões em dezembro, variação positiva de 4,9% em 12 meses, mas queda de 1,7% em três. Com isso, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) do banco fechou o período em 3,9%, baixa de 13,6 pontos porcentuais em um ano, e de 9,1 pontos em três meses. “Estamos trabalhando intensamente em nosso objetivo de alcançar retorno recorrente de pelo menos 18%”, disse Lazari.