O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 9, em baixa de 0,48%, cotado a R$ 4,9875, devolvendo parte da alta de 1,37% no pregão de ontem, na esteira da confirmação do nome do secretário-executivo do ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, para a diretoria de Política Monetária do Banco Central. Pela manhã, a divisa chegou até a esboçar um avanço pontual, atingindo máxima a R$ 5,0375, mas não se sustentou muito tempo em terreno positivo e, com renovação sucessiva de mínimas no início da tarde, desceu até R$ 4,9735.

Operadores atribuíram a recuperação do real a ajustes de posições e movimento de realização de lucros no mercado futuro de câmbio. O tom duro da ata do Copom, que afasta a perspectiva de redução de juros já na virada do semestre, fluxo financeiro para a bolsa e internalização de recursos por exportadores teriam contribuído para segurar o dólar no mercado doméstico.

No exterior, a moeda americana subiu em relação ao euro e à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, em dia de baixo apetite ao risco diante de preocupações com o setor bancário americano e resultado abaixo do esperado da balança comercial chinesa. Pares do real, como o peso mexicano e, em especial, o peso chileno, contudo, foram na contramão e ganharam força em relação ao dólar.

“O real se desvalorizou muito ontem com a indicação de Galípolo aumentando o temor de pressão sobre o Banco Central e hoje está devolvendo um pouco com a ata do Copom sinalizando que não vai ter redução de juros tão cedo”, afirma o sócio da Nexgen Capital Felipe Izac, para quem Galípolo é um nome “técnico” e com boa passagem no mercado financeiro, mas está identificado com as ideias do governo sobre a política monetária. “Além do ajuste de ontem, vi um movimento forte de entrada de capital, com diversas empresas exportadoras colocando ordens depois que o dólar bateu máxima”.

À tarde, Galípolo fez seu primeiro pronunciamento após ser indicado ao BC e concedeu entrevista. Ele se esquivou de comentar a ata do Copom, algo que julgou inadequado antes de ser sabatinado pelo Senado. O secretário-executivo da Fazenda disse que mantém uma boa relação com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e que recebeu de Haddad a missão de evitar que as políticas monetárias e fiscal sigam caminhos distintos

A ata do Copom manteve o tom do comunicado da semana passada, quando o colegiado do BC decidiu manter a taxa Selic em 13,75%. O cenário de retomada do ciclo de alta de juros passou a ser “menos provável”, mas as expectativas de inflação seguem desancoradas. A reoneração dos combustíveis e apresentação da proposta de arcabouço fiscal “reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal”, embora ainda seja preciso esperar o desenho final “a ser aprovado pelo Congresso”.

O relator do projeto do novo arcabouço, deputado Cláudio Cajado (PP-BA) disse hoje que deve entregar o relatório até quinta-feira, 11. Parlamentares ouvidos pelo Broadcast Político disseram, contudo, que a entrega do texto vai ser adiada para a semana que vem.

“Parece que o texto do arcabouço vai ser finalmente entregue e deve ser aprovado. Temos bolsa barata em dólar e taxa de juros muito atraente que atraem capital, o que favorece a queda do dólar. Além disso, o fluxo comercial segue forte”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, que vê a taxa de câmbio oscilando em uma banda entre R$ 4,90 e R$ 5,10 no curto prazo.