O dólar à vista se descolou ao longo da tarde da onda de fortalecimento da moeda americana no exterior e encerrou a sessão desta quinta-feira, 11, em baixa de 0,27%, cotado a R$ 4,9367, após ter registrado mínima a R$ 4,9316. Com as perdas de hoje, a divisa emendou o terceiro pregão seguido de queda no mercado doméstico, período em que acumulou desvalorização de 1,49%. O real brilhou ao ser a única moeda entre divisas fortes e emergentes relevantes a ganhar força frente ao dólar.

Pela manhã, a moeda americana chegou a esboçar uma alta mais firme e correu até máxima a R$ 4,9836 em sintonia com o ambiente de aversão ao risco no exterior, após leituras de inflação chinesa e americana abaixo do esperado renovarem temores de desaceleração mais forte da atividade global. Nos Estados Unidos, além do estresse com o impasse em torno do aumento do teto da dívida, o tombo de mais de 20% de papéis do banco PacWest trouxe novamente à baila dúvidas sobre a saúde do sistema financeiro.

“As moedas emergentes caíram com a perda do ritmo de crescimento da economia chinesa e o risco de recessão global. O real até se valorizou, o que se deve provavelmente a uma correção técnica e algum ingresso de fluxo, com dia mais positivo para a bolsa”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.

O movimento de apreciação do real se deu em meio ao avanço do Ibovespa, que renovou máxima à tarde, acima dos 108 mil pontos, com ganhos de mais de 3% de papéis PN da Petrobrás. A petroleira anunciou pagamento de R$ 24,7 bilhões em dividendos, conforme adiantado pelo Broadcast. Operadores também notaram uma onda vendedora mais forte no mercado futuro de câmbio, com relatos de que investidores estrangeiros estariam reduzindo posições cambiais compradas em dólar, montadas para proteção (hedge) ou especulação.

Como pano de fundo, está a análise de que a moeda brasileira, descontada em relação a pares, seria beneficiada tanto pela revisão para cima de dados de atividade econômica doméstica quanto pela perspectiva de endurecimento da proposta de arcabouço fiscal no Congresso – uma combinação que reduz prêmios de risco embutidos em ativos locais.

“O mercado está premiando moedas de países que seguem oferecendo juro alto” afirma o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, ressaltando que o mercado já embute cortes de juros mais fortes nos EUA no segundo semestre, enquanto eventuais reduções da taxa Selic devem ser mais comedidas. “Também tivemos notícias na margem melhores sobre o texto do arcabouço fiscal. Acho que o real vai continuar se fortalecendo”.

Com o mercado de câmbio à vista já fechado, a assessoria do relator da proposta do novo marco fiscal, deputado Claudio Cajado (PP-BA), informou que o relatório do arcabouço será divulgado na próxima semana, provavelmente na terça-feira, 16, como antecipado pelo Broadcast Político.

“O real é a única moeda se valorizando frente ao dólar hoje e a bolsa está subindo por aqui. Claramente, temos um fator interno”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, que vê “bastante espaço” para o real se apreciar, caso se confirme a expectativa de que o arcabouço fiscal tenha parâmetros mais rígidos.