22/07/2020 - 12:02
A crise provocada pela pandemia do novo coronavírus impulsionou a venda de frutas cítricas brasileiras para outros países. Enquanto o volume de exportação de frutas em geral caiu 5% no primeiro semestre do ano, em relação ao mesmo período de 2019, a comercialização de produtos como tangerina, laranja, limão e lima avançou 12%. Em seis meses, essas frutas foram responsáveis por US$ 57,1 milhões em exportações, o que representa uma alta de 8% no valor exportado.
Os dados fazem parte de estudo feito pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), com base em informações do governo federal. Os números revelam que, durante a pandemia, as frutas cítricas destoaram da tendência mais geral de retração nas vendas para outros países.
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Por trás do movimento está principalmente o interesse dos países europeus, em especial Holanda, Reino Unido, Espanha e Alemanha, que compraram frutas cítricas em busca de fontes de vitamina C – vista como uma ferramenta para ajudar a fortalecer o sistema imunológico durante a pandemia. Com volumes menores de compras, também se destacaram Emirados Árabes e Canadá.
Se por um lado o volume exportado de melão – uma das principais frutas vendidas pelo Brasil a outros países – recuou 13% no primeiro semestre, a comercialização de tangerina subiu 158%, a de laranja avançou 132% e a de limão e lima teve alta de 12%. O destaque ficou por conta de limões e limas, que somaram 71,7 mil toneladas exportadas de janeiro a junho.
No período, o Brasil vendeu 399.804 toneladas de frutas em geral in natura (fresca, sem processamento), o que gerou US$ 312,4 milhões em divisas para o País. Deste total, 73.039 toneladas foram de frutas cítricas (18% de todas as frutas), em um montante de US$ 57,1 milhões.
“No início da pandemia, surgiu uma demanda muito grande por vitamina C”, explica o assessor técnico da Comissão de Fruticultura da CNA, Erivelton Cunha. “A vitamina era vista como uma forma de ajudar na imunidade.” Assim, as vendas de laranjas, que chegaram a cair 58% no primeiro trimestre do ano, passaram a subir no período de pandemia, encerrando o primeiro semestre com alta superior a 100%.
Outras frutas tradicionalmente exportadas pelo Brasil tiveram desempenho pior. Conforme Cunha, itens como mamão, uva e manga foram prejudicados por não poderem utilizar os modais aéreos. “São frutas que vão para outros países juntamente com os passageiros”, explica o assessor da CNA. Com a forte redução do número de viagens aéreas, estes itens encalharam no Brasil.
Renda
Apesar dos bons resultados do primeiro semestre, há dúvidas sobre a continuidade do desempenho no segundo semestre. Além de o período de colheita das frutas cítricas se concentrar em maio, junho e julho, os exportadores terão que lidar, até o fim deste ano, com as incertezas em relação ao consumo pós-pandemia.
“Esperamos uma sensibilização maior dos consumidores quanto à alimentação e que ocorra procura maior por frutas e hortaliças, ricas em vitaminas e sais minerais”, diz Cunha. “Por outro lado, existe a questão financeira. Será que a população terá dinheiro para consumir este tipo de produto, ou será que vai preferir comprar itens básicos, como carboidratos e proteínas?”
Técnicos do Ministério da Agricultura ouvidos pelo Estadão/Broadcast Agro lembraram que a representatividade das frutas cítricas é pequeno no universo das exportações agrícolas do Brasil. Ao mesmo tempo, afirmaram que a expectativa é de que haja um aumento das vendas de frutas em geral no segundo semestre.
Eles lembraram que a segunda metade do ano é, tradicionalmente, mais favorável para a exportação de frutas brasileiras. Além disso, pontuaram que a Europa, principal mercado consumidor, já está em um estágio mais avançado na pandemia, com reabertura do comércio e processo de normalização do consumo.
Hortaliças
As exportações de hortaliças também apresentaram expansão consistente no primeiro semestre, com alta de mais de 300% no volume ante o mesmo período do ano passado, conforme a CNA. Foram vendidas no período 23 mil toneladas de produtos como cenoura, tomate, cebola e batata.
Conforme a CNA, neste caso o avanço deve-se à busca por mercados mais próximos, como os dos países do Mercosul, cujo acesso pode ser feito por meio terrestre.
“Os produtores, com o comércio interno muito limitado, buscaram alternativas via Mercosul”, diz Cunha. “O tomate, por exemplo, em junho teve preço muito baixo. Então a comercialização para países vizinhos foi ampliada.”
Apesar dos impactos inevitáveis da pandemia do novo coronavírus sobre o consumo de produtos brasileiros, o agronegócio tem surgido como uma exceção. Isso porque a exportação de produtos agrícolas – em especial, de soja para a China – tem impulsionado o setor nos últimos meses.
As projeções da CNA são de que, com a pandemia, a participação do agronegócio no PIB brasileiro saltará de 21,4% em 2019 para 23,6% em 2020. No ano passado, 45% de tudo exportado pelo País foram do agronegócio. Este ano, o porcentual deve chegar a 55%.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.