O Grupo de Produtores Orgânicos do Brejal, que conta com mais de 40 agricultores familiares, produz cerca de 50 toneladas de alimentos por mês, na região serrana do Rio de Janeiro. Toda terça-feira, quinta e sábado, um caminhão com alface, cenoura, brócolis, beterraba e frutas da estação percorre mais de 300 quilômetros, para comercializar os alimentos em seis feiras na capital, em bairros como o Leblon e Copacabana, além de atender mais de dez restaurantes. Mesmo assim, o grupo não consegue vender cerca de 30% da produção. “A maior dificuldade é a comercialização”, diz Paulo Roberto de Andrade, um dos coordenadores do Brejal.

Para incrementar as vendas, o grupo buscou uma solução no comércio eletrônico, com a internet. A nova ferramenta começa a funcionar no próximo mês no site da Organomix, um supermercado virtual especializado em orgânicos. Segundo Andrade, em 2012, os produtores criaram uma página no Facebook e já alimentavam o sonho de explorar o comércio eletrônico. O grupo, que faturou perto de R$ 600 mil no ano passado, espera zerar as perdas e, com o empurrãozinho da internet, alavancar a produção. “Teremos um importante novo ponto de venda”, diz Andrade. “Nossos produtos poderão chegar aonde a nossa logística não tem condições de atender.”

Segundo o CEO do Organomix, o engenheiro de telecomunicações Marcelo Schiaffino, a internet alcança um público muito maior do que qualquer feira. “Além disso, com comprador certo, o produtor ganha”, afirma Schiaffino.” O site, que começou a operar em 2012 com 12 categorias de produtos, tem uma rede de fornecedores de mais de 40 marcas de alimentos não perecíveis, possui mais de três mil usuários cadastrados no Rio de Janeiro e Niterói e neste ano deve firmar parcerias com produtores de São Paulo. “Existe uma tendência clara de crescimento do comércio de alimentos pela internet”, diz Schiaffino.

A consultoria E-bit, especializada em e-commerce, estima que em 2013 as receitas da internet devem chegar a R$ 28 bilhões no País, um crescimento de 25% ante os R$ 22,4 bilhões de 2012. Embora o sucesso ainda se concentre nas categorias de moda, esporte, casa e decoração, há quem acredite que a internet vai revolucionar o agronegócio, dando mais agilidade às transações do setor. A FortisAgro, de São Paulo, nasceu com esse objetivo no ano passado. A plataforma é voltada a produtores, cooperativas, agroindústrias, cerealistas e tradings que atuam no complexo soja, trigo, milho, arroz e algodão. Segundo o diretor da bolsa online, João Batista Cardoso, o setor está acostumado a operar por telefone, num processo que pode demorar horas ou até dias. “É possível um mercado de commodities mais ágil”, diz.

A empresa, que movimentou R$ 45 milhões no ano passado, conta com cerca de 1,2 mil usuários de seu serviço no site. Entre eles está o produtor Odair Dohashi, da granja Dohashi, de Bastos (SP), que produz cerca de 150 caixas de ovos de codorna por dia. Dohashi compra insumos há quase um ano através da FortisAgro. “Toda semana são 15 toneladas de soja”, afirma. “Na plataforma, acompanho preços de todo o Brasil.” No médio prazo, a FortisAgro pode se transformar numa ferramenta tão popular quanto o Shopping MF Rural, uma espécie de “classificados” digital do agronegócio, no ar desde 2004, que se destaca no comércio de máquinas agrícolas, sementes e animais. Com mais de dois milhões de acessos mensais, o site deu tão certo que o Grupo MF Rural, de Marília (SP), também lançou, em 2011, o primeiro site de compras coletivas agro do Brasil, o Espiga de Milho. “Em 2012, foram cerca de 350 ofertas no site”, diz Renato Lucas, sócio da empresa. “Com o avanço da internet no campo e o uso de celulares e tablets, o negócio só tende a crescer.”