O desempenho obtido pela pecuária tem afastado os produtores do temor de uma crise. Em 2015, o setor da pecuária tem conseguido passar à margem das preocupações econômicas. Vários fatores contribuíram para blindar os pecuaristas e garantir uma posição mais confortável. Um deles, o preço da arroba do boi pago ao produtor, vem em uma linha crescente desde janeiro. Entre o início de 2014 e o final de 2015, o aumento médio da arroba foi de 30%, passando de R$ 114 para R$ 148. Soma-se a isso a abertura de mercados internacionais para a carne bovina brasileira e a entrada de novos criadores no setor.

A demanda por nelore, raça de base da pecuária nacional, permaneceu com aquecida nos leilões. A procura por animais para cruzamento industrial também impulsionou o mercado de raças sintéticas, como a senepol; o das europeias, como a angus e a hereford; e as suas derivações, como a brangus. O cruzamento dessas raças com o nelore é resultado certo na busca por um ciclo mais intenso de produtividade, o que também contribui para a conta de lucratividade.


“Os resultados dos leilões são reflexo de um momento privilegiado na pecuária” Paulo Horto, proprietário da Programa

Os leilões de gado selecionado, e também nos eventos destinados ao gado de produção, têm refletido este bom momento. No período de janeiro a outubro de 2015, os leilões faturaram, em média, 28% acima do registrado em igual período do ano. A procura por genética superior foi confirmada nas pistas. Nesse nicho de mercado, o crescimento foi de 18% no faturamento em relação ao mesmo período de 2014. Um cenário que se repete nos leilões de produção, nos quais o aumento foi ainda maior, de 31% na média dos touros e de 25% na média das fêmeas vendidas. Os números são da empresa Programa Leilões, com sede em Londrina (PR), que detém hoje o maior número de vendas na modalidade, no País. De acordo com Paulo Horto, proprietário da empresa, alguns leilões bateram recorde. “Os resultados são reflexo de um momento privilegiado na pecuária”, afirma Horto. Um deles foi leilão Mega Touros Matinha, do criador Luciano Borges, realizado em agosto, que obteve um crescimento de 70% na média dos animais. O leilão Nelore Mocho CV, realizado em julho por Carlos Viacava, obteve um crescimento de 36% na média dos reprodutores. Nos leilões de fêmeas, um dos destaques foi o Virtual Matrizes Mata Velha em outubro, do criador Jonas Barcellos, com média de R$ 7,5 mil para os animais de campo, 17% superior ao ano passado. Já no leilão Virtual Grupo Camargo, a média para as fêmeas de produção foi de cerca de R$ 10 mil. Com a oferta de reprodutores e animais de genética superior, o grupo promoveu um dos maiores remates virtuais do País, neste ano. Outro momento importante, que representou a força da pecuária, em 2015, foi o leilão Touros Nelore JOP em setembro. No evento foram vendidos reprodutores oriundos de embriões importados da Índia, uma ferramenta de refrescamento genético para os planteis brasileiros. O leilão recebeu pecuaristas do Brasil e da Bolívia, registrando a média de R$ 65 mil para os reprodutores.

Outro fator que ajuda a alimentar os resultados refletidos nas pistas de leilões é a possibilidade da expansão da exportação de carne. Os principais mercados do mundo foram abertos para carne brasileira, como os Estados Unidos, a China e a Arábia Saudita. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), nos três primeiros meses desta reabertura, os chineses já ocupam o primeiro lugar no ranking dos maiores importadores de carne bovina do Brasil. A expectativa é de que no próximo mês, comecem também os embarques para os americanos.  De carne in natura as exportações até outubro somam 108,6 toneladas. Todo esse movimento indica que a pecuária seguirá em 2016 o mesmo ritmo de crescimento obtido nos últimos dois anos, consolidando o setor como uma das atividades mais rentáveis no País.  Mas, de acordo com Horto, não é prudente baixa a guarda e o tempo é de cautela. “O que garante uma diferenciação no mercado é desenvolver um trabalho profissional”, afirma. Os pecuaristas que há muito tempo vêm se organizando, fazendo novos investimentos na atividade, promoveram uma espécie de proteção. “Com um cenário de retração na economia, vejo que uma parte dos produtores está preparada para atravessar a turbulência e pode aproveitar oportunidades de negócio”, diz Horto.  “Para o ditado popular, enquanto uns choram outros vendem lenços, estamos na segunda categoria”, avalia.