O novo presidente da ABCZ, Duda Biagi, investe em parcerias com consultorias e entidades do agronegócio a fim de fortalecer ainda mais o gado brasileiro, tanto dentro como fora do País

 

À frente da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) desde agosto, e com mandato para o triênio 2010/2013, Eduardo Biagi, o Duda, tem como missão comandar a maior entidade classista mundial do setor pecuário, com 18 mil associados no Brasil. Criador de nelore e empresário do setor sucroalcooleiro em Ribeirão Preto (SP), Duda fala sobre os planos da entidade que vai dirigir ao lado de renomados nomes da pecuária como seus vice-presidentes Jonas Barcellos Correia Filho, Jovelino Carvalho Mineiro Filho e Gabriel Prata Rezende.

Dinheiro Rural – Qual o principal desafio em presidir a maior entidade classista do setor pecuário mundial?

EDUARDO BIAGI – São vários. O principal é fazer com que a ABCZ continue contribuindo para o aumento sustentável da produção mundial da carne e do leite, através do registro, do melhoramento genético e da promoção das raças zebuínas. O pecuarista tem demonstrado nos últimos anos um grande interesse em produzir de maneira sustentável e para nós da ABCZ a melhor forma de alcançar este objetivo é através do melhoramento genético. Já somos referência em produção. Em pouco tempo, o Brasil será reconhecido também como referência em melhoramento genético.

Dinheiro Rural – Qual o tamanho do rebanho brasileiro sob responsabilidade da ABCZ?

EDUARDO BIAGI – A ABCZ é a responsável pelo registro genealógico das raças zebuínas brahman, gir, gir leiteiro, guzerá, indubrasil, nelore, sindi e tabapuã, e ainda de alguns cruzamentos como o tababel e o guzolando. Atualmente, o rebanho nacional registrado é de aproximadamente 1,5 milhão de animais zebuínos.

Dinheiro Rural – Qual a participação dos zebuínos na produção de carne e leite no Brasil?

EDUARDO BIAGI – Cerca de 80% do rebanho nacional possui sangue zebu. Por isso, boa parte da produção de carne e leite deriva dessa porcentagem. As raças zebuínas com aptidão de corte, especialmente o nelore, contribuem com quase a totalidade do que é produzido no País. Em relação ao leite, sabemos que a contribuição do zebu também é bastante expressiva, graças às raças com boa aptidão leiteira, como o gir, o sindi e o guzerá.

“O Brasil será referência em genética”

Dinheiro Rural – Quais os principais programas da ABCZ?

EDUARDO BIAGI – Os programas convergem para o melhoramento genético. Estamos consolidando o Programa de Melhoramento Genético das Raças Zebuínas (PMGZ) e ampliando as provas zootécnicas. Além disso, promovemos anualmente a ExpoGenética, como uma forma de incentivar o produtor a utilizar os dados gerados pelos programas de melhoramento do Brasil. Sem falar no Pró-Genética. Através dele, queremos transformar a qualidade dos rebanhos dos pequenos e médios produtores, fazendo com que as características produtivas do zebu cheguem a eles em maior proporção.

 

O novo presidente da ABCZ, Duda Biagi, investe em parcerias com consultorias e entidades do agronegócio a fim de fortalecer ainda mais o gado brasileiro, tanto dentro como fora do País

Dinheiro Rural – A ABCZ tem implantado ações conjuntas com associações de raça. Quais merecerão destaque em sua gestão?

EDUARDO BIAGI – Trabalhamos ao lado das associações promocionais, procurando contribuir de todas as maneiras possíveis para que seus objetivos sejam alcançados. Como exemplo, posso citar a realização de exposições especializadas como a Expoinel e o Congresso Mundial da Raça Brahman, que será realizado pela primeira vez no Brasil, em outubro.

Dinheiro Rural – Quais as expectativas para a pecuária nacional na próxima década?

EDUARDO BIAGI – Segundo relatório da FAO e da OMC, na próxima década a demanda mundial de carnes crescerá mais de 23% e espera-se que este aumento seja atendido principalmente pelo Brasil. A nossa oportunidade será grande e teremos que trilhar o caminho da profissionalização e da gestão sustentável para aproveitá-la.

“Cerca de 80% do rebanho nacional tem sangue de zebu, o que otimiza a produção de leite e carne”

Dinheiro Rural – O que está faltando para a implementação mais eficiente do sistema de rastreabilidade?

EDUARDO BIAGI – Falta racionalidade para implementar um sistema factível dentro das fazendas, que atenda à demanda dos clientes. Em um país com dimensões continentais como o nosso e com realidades produtivas diferentes, seria preciso um trabalho de orientação junto ao produtor rural, mostrando a importância da rastreabilidade e demonstrando suas recompensas.

Dinheiro Rural – Qual o compromisso da ABCZ no desenvolvimento da pecuária verde?

EDUARDO BIAGI – Total. Há alguns anos transformamos a ExpoZebu em um palco de discussão da pecuária sustentável e de decisões importantes para a pecuária nacional. Procuramos disseminar informações sobre recuperação de pastagem, melhoramento genético, sistema silvipastoril, entre outros, através dos nossos veículos de comunicação.

Dinheiro Rural – Quais os diferenciais de produção com sustentabilidade do rebanho brasileiro em relação aos demais?

EDUARDO BIAGI – São a predominância do gado zebu, perfeitamente adaptado ao nosso clima, e o sistema de manejo com cria, recria e engorda a pasto. Assim, é possível alcançar mais produção de carne e leite com menos uso de produtos químicos e alimentos concentrados, produzindo carne natural e leite mais saudável.

Dinheiro Rural – Qual o posicionamento da ABCZ sobre o novo Código Florestal?

EDUARDO BIAGI – A ABCZ acredita que não importam as razões que nos trouxeram até a situação atual, de total insegurança jurídica no campo. Esta situação precisa mudar e o Código Florestal deve ser revisto de forma a adequar preservação e produção.

 

 

O novo presidente da ABCZ, Duda Biagi, investe em parcerias com consultorias e entidades do agronegócio a fim de fortalecer ainda mais o gado brasileiro, tanto dentro como fora do País

Dinheiro Rural – Qual é a sua opinião sobre campanhas realizadas pelos supermercados e frigoríficos, que não compram carne produzida na Amazônia?

EDUARDO BIAGI – Em vez de buscarem juntos a adequação da forma de produção, alguns setores elegem maneiras mais “simplificadas” para ganhar a confiança do consumidor. Isso não resolve o problema, além de marginalizar a figura do produtor rural e de um setor que tanto contribui para a economia nacional.

Dinheiro Rural – O Brasil vai atingir a meta de se tornar área livre de aftosa por meio de vacinação em 2010?

EDUARDO BIAGI – Isso vem sendo discutido durante as reuniões do Fórum Nacional dos Executores de Sanidade Agropecuária (Fonesa). É uma meta audaciosa, mas necessária. Mesmo que não consigamos alcançá-la no prazo determinado, é preciso iniciar o processo ainda que de forma lenta e gradual para atingir o status livre sem vacinação. O que a ABCZ defende é que o circuito sul, principalmente os Estados do Paraná e Rio Grande do Sul, poderia ser o primeiro a começar.

Dinheiro Rural – Recentemente a ABCZ prometeu combater as suspeitas de fraudes em exposições no País. Como está esse processo?

EDUARDO BIAGI – Estamos buscando uma melhoria contínua no processo de registro e na escrituração zootécnica nas propriedades. Para isso, buscamos realizar auditorias, que têm nos ajudado a implantar melhorias e orientar os criadores. O processo terá sequência porque é de fundamental importância na qualidade do serviço de registro genealógico.

“Falta planejamento adequado para implantarmos um sistema eficiente de rastreabilidade”

Dinheiro Rural – Na área internacional, quais os avanços da entidade?

EDUARDO BIAGI – Nos últimos sete anos, a ABCZ intensificou o trabalho internacional em parceria com a Apex Brasil. Estamos divulgando o zebu e as potencialidades da pecuária brasileira para o mundo. Avançamos muito na negociação internacional com vários países, em relação aos protocolos sanitários. Temos, em função disso, um aumento em quantidade de visitantes internacionais. Na última ExpoZebu recebemos mais de 500 estrangeiros.

Dinheiro Rural – Como a ABCZ vê os embargos que a carne brasileira sofre no mercado internacional?

EDUARDO BIAGI – Como mais uma tentativa protecionista de segmentos do mercado, que são menos competitivos do que nós.