27/03/2021 - 21:58
Em reportagem publicada neste sábado, 27, o jornal americano The New York Times destaca a catastrófica onda de covid-19 que atinge o Brasil e afirma que o colapso que sobrecarregou os hospitais brasileiros era previsto. Publicada como manchete do site do periódico, a matéria ressalta a marca de 300 mil mortos pela doença e afirma que a pandemia se agravou “por uma variante altamente contagiosa, brigas políticas e desconfiança na ciência”.
“Mais de um ano após a pandemia, as mortes no Brasil estão em seu pico e variantes altamente contagiosas do coronavírus estão varrendo o País, possibilitadas por disfunções políticas, complacência generalizada e teorias da conspiração. O país, cujo líder, o presidente Jair Bolsonaro, minimizou a ameaça do vírus, agora está relatando mais casos e mortes novas por dia do que qualquer outro país do mundo”, diz trecho da reportagem.
O artigo dá destaque para o caso do Rio Grande do Sul, Estado que registrou aumento exponencial de casos e mortes de covid a partir de fevereiro e viu hospitais públicos e privados entrarem em colapso.
Para ilustrar como ações políticas dificultaram o combate à pandemia no País, os repórteres do NYT destacam, logo no início do texto, uma polêmica frase do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB). Mesmo com a rede de saúde da capital gaúcha à beira do colapso, o político pediu aos munícipes, no final de fevereiro, que contribuíssem “com a sua vida para que a gente salve a economia”.
O jornal americano destaca também as posições anticientíficas do presidente Bolsonaro e a ausência de um “lockdown” rígido e coordenado. “O presidente Bolsonaro, que continua promovendo drogas ineficazes e potencialmente perigosas para tratar a doença, também disse que o lockdown é insustentável – em um país onde tantas pessoas vivem na pobreza. Embora vários Estados brasileiros tenham ordenado o fechamento de atividades econômicas nas últimas semanas, não houve nenhum lockdown estrito”.
O NYT diz que, segundo epidemiologistas, o País poderia ter evitado novas restrições se o governo tivesse promovido o uso de máscaras e o distanciamento social e negociado de forma mais agressiva no ano passado o acesso a vacinas.
“Em vez disso, Bolsonaro, um aliado próximo do ex-presidente Donald Trump, chamou a covid-19 de ‘gripezinha’, incentivou grandes aglomerações e criou uma falsa sensação de segurança entre seus apoiadores ao endossar remédios antimaláricos e antiparasitários, contradizendo as principais autoridades sanitárias, que alertavam que eles eram ineficazes”, diz o jornal, referindo-se à defesa do presidente Bolsonaro de drogas como a hidroxicloroquina e a ivermectina.
O periódico dos EUA afirma ainda que as falhas do Brasil na resposta à pandemia destoam do histórico do País no enfrentamento a crises sanitárias. “O colapso é um fracasso total para um país que, nas últimas décadas, foi um modelo para outras nações em desenvolvimento, com uma reputação de desenvolver soluções ágeis e criativas para crises de saúde, incluindo a onda de infecções pelo HIV e o surto de Zika”, ressalta outro trecho da matéria.