06/06/2017 - 12:59
Aos 14 anos, o paranaense Ronaldo Pereira, que completa 45 anos neste mês, conseguiu o emprego de office boy na multinacional americana Alcoa, em Londrina (PR). Logo depois, a empresa, uma das três maiores do mundo no setor de alumínio, o contratou para ser desenhista. Era o que constava em sua carteira profissional, em uma época na qual a lei permitia menores de idade nas empresas. “Na verdade, eu fazia orçamentos de esquadrias”, diz Pereira. “Meus pais até poderiam me sustentar, mas sou de uma família humilde, sem muitas posses. Queria trabalhar para começar a minha vida.”
O contato precoce com uma multinacional fez nascer em Pereira uma certeza: era em uma estrutura similar, uma grande e organizada empresa que ele apostaria as fichas de uma carreira profissional. O que ele não previa era que, ao se formar em engenharia agronômica na Universidade Estadual de Londrina, em 1994, trilharia toda a sua carreira em uma única empresa, no caso a americana de agroquímicos FMC Agrícola, com exceção de um ano no qual trabalhou para uma concorrente. Contratado como desenvolvedor de produto, o cargo mais comum para a entrada de agrônomos nesse mercado de trabalho, hoje Pereira ocupa um dos quatro cargos executivos mais importantes da multinacional FMC Agricultural Solutions, respondendo diretamente ao presidente mundial Mark Douglas, nos Estados Unidos. A receita global anual da companhia é de US$ 3,3 bilhões. Pereira assumiu o cargo de vice presidente mundial para a América Latina e Caribe, no início deste ano, acumulando o de diretor geral da FMC no Brasil. Sob o seu chapéu estão US$ 1,2 bilhão de faturamento.
Em 20 anos, Pereira passou por oito posições de liderança e morou no México e nos Estados Unidos. Também esteve à frente de projetos inovadores para a companhia. Entre eles, sem ser do ramo, formou uma equipe global de cientistas, em uma posição que não existia na FMC. “Não me programei para ficar todo esse tempo em uma única empresa”, afirma o executivo. “Fiquei porque fui conseguindo o que eu queria, que era me desenvolver e realizar coisas novas.” Igor Schultz, um dos diretores da Flow Executive Finders e especialista na contratação de executivos para altos cargos de direção, diz que um profissional deve mudar de posição ou empresa quando enxergar perspectivas melhores, com proposta de valor. “Lógico que, se uma empresa oferece uma oportunidade, está aí o caminho”, diz Schultz. “O que normalmente o mercado enxerga como negativo é um profissional ficar sempre na mesma posição.” Para ele, na última década, as fusões e aquisições têm colocado um novo desafio no desenvolvimento de carreiras. Nesse ambiente, permanecer por muito tempo em uma mesma companhia é quase um lance de sorte. Por isso, segundo Schultz, é necessário determinar onde colocar o foco da carreira. “Não basta olhar a remuneração e o cargo, mas a perspectiva de carreira, para onde é possível caminhar.”
Pereira diz que tem essa percepção desde cedo, mesmo que no início de sua carreira ela não estivesse baseada em nenhuma teoria administrativa e de gestão. “No início, eu não sabia em que área iria trabalhar, mas desde que eu entrei na faculdade pensava em uma empresa de grande porte, uma multinacional”, afirma ele. “Porque me parecia que ali haveria oportunidade de desenvolvimento, de conhecer lugares. São empresas que investem em você.” Hoje, 600 profissionais estão sob o seu comando. No Brasil estão 400 e os demais, espalhados entre Argentina, México, Equador, Chile e outros países de seu bloco de gestão na FMC. Além de 11 executivos que o auxiliam na linha de frente da gestão do negócio, cerca de 100 agrônomos estão no campo.
De acordo com o executivo, atualmente a empresa passa por grandes transformações e que as oportunidades de desenvolvimento são gigantes. “Em um ambiente em movimento, gente bem humorada é fundamental”, afirma. “Mas principalmente que seja alinhada com a companhia, porque não acredito que se possa mudar os valores de uma pessoa.” Em 2016, a FMC comprou por US$ 1,8 bilhão a dinamarquesa Cheminova, multinacional de defensivos agrícolas. No início deste ano anunciou a aquisição do negócio de Proteção de Culturas da DuPont, por US$ 1,2 bilhão. As duas ações devem elevar a empresa para a posição de quinta maior do mundo no setor de agroquímicos. “É um novo momento, porque serão incorporadas duas mil pessoas em todo o mundo, das quais 250 serão no Brasil”, diz Pereira. Além disso, são 14 unidades de produção, com uma no Brasil, e 15 centros de pesquisa e desenvolvimento. “Quando vem sólido, o crescimento de uma empresa gera prosperidade para as pessoas”, afirma ele. “Eu, por exemplo, não consigo me ver assumindo posições acima da minha, mas há tantas oportunidades em passos laterais, em cargos equivalente em outras geografias, ou mesmo em áreas que ainda não existem na companhia. Mas, isso, lá no futuro.”