O segredo do sucesso brasileiro na produção de grãos não está apenas na dedicação do produtor e na tecnologia aplicada no campo. O armazenamento da produção aumenta a força de negociação. Assim, se ampliarmos a capacidade de armazenamento, ampliaremos ainda mais os resultados. E é isso o que está previsto para essa safra.

Um dos principais investimentos da cooperativa paranaense Coamo, sediada no município de Campo Mourão, foi o aumento da capacidade de armazenagem. De 2015 a 2016, a estocagem de grãos passou para 6,17 milhões de toneladas, o que representou um salto de 4,8%. Este ano, são inaugurados mais dois armazéns, ampliando a capacidade da cooperativa para 6,3 milhões de toneladas. “A participação dos cooperados vem crescendo ano a ano e para melhor atendê-los estamos investindo em modernas unidades com estruturas completas”, diz o engenheiro agrônomo José Aroldo Gallassini. Investimentos como esse tendem a crescer nessa safra porque as linhas de crédito de estocagem de grãos e de construção de armazéns estão mais baixas.

A Coamo, por exemplo, uma das maiores cooperativas agrícolas do País, faturando R$ 11,4 bilhões, não é a única a investir em maior capacidade de silos e no planejamento para a comercialização de grãos. A tendência é geral entre os produtores, de norte a sul do País, como a sua conterrânea, a Cocamar, de Maringá, além dos sojicultores mato-grossenses. “Poder armazenar sua produção em uma estrutura própria diminui o risco de perdas e dá a possibilidade de escalonamento da venda”, afirma Endrigo Dalcin, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja). “O produtor pode assim ter menos custos com transporte e mais agilidade na colheita.”

Nesta safra, que promete ser a segunda maior da história do País, com 225,6 milhões de toneladas de grãos, o produtor dispõe de juros que vão de 8,5% ao ano a 6,5%, quedas que vão até dois pontos porcentuais em relação às taxas aplicadas na safra passada.

O volume de crédito para custeio e comercialização é de R$ 150,3 bilhões. São desses recursos que saem o crédito desta safra para a estocagem de grãos. Pelo Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) estão dispostos R$ 1,6 bilhão nesta safra. Segundo Zilto Donadello, coordenador da Comissão de Política Agrícola da Aprosoja, o crédito de estocagem de grãos pode ser uma saída interessante. “Se o produtor ficar atento à dinâmica de preços da soja, por exemplo, essas linhas podem ser vantajosas, pois elas permitem que o produtor possa conseguir melhores preços na hora da venda da produção”, diz
Donadello.

José Aroldo Gallassini,diretor-presidente da Coamo (Crédito:Divulgação)

A Aprosoja tem incentivado cada vez mais o produtor na hora da comercialização. Desde o ano passado, por exemplo, a entidade desenvolve o projeto Armazena MT, que auxilia os produtores a encontrar as linhas de financiamento adequadas para a construção e reforma de armazéns, o que pode ajudar no melhor momento de venda do grão.

“Precisamos resolver o déficit da armazenagem no Estado”, diz Donadello. O volume da produção agrícola de soja e milho em Mato Grosso soma 60,8 milhões de toneladas, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Já a capacidade instalada de armazenagem no Estado é de 33,5 milhões de toneladas sendo que o ideal seria de 72,9 milhões de toneladas. Ou seja, o déficit de armazenagem no Estado é de 39,4 milhões de toneladas. A Cocamar investiu cerca de R$ 70 milhões para melhorar a capacidade de suas estruturas que atualmente comportam 1,2 milhão de toneladas e vão para 1,4 milhão de toneladas. O projeto está em linha com o crescimento da própria cooperativa. O ano de 2017, com a supersafra, foi exemplo disso. Só de soja e milho, foram recebidas mais de 2,5 milhões de toneladas, para uma capacidade de armazenagem de 1,2 milhão.

“Vivemos uma pressão constante em relação à capacidade de armazenamento”, diz Divanir Higino, presidente da Cocamar. Ampliar o volume do crédito para a construção e aprimoramento dos sistemas de armazenagem, é uma das formas mais seguras de investir no fortalecimento do agronegócio brasileiro.

A ampliação da capacidade de armazenamento fortalece o produtor (Crédito:Marco Ankosqui)