08/10/2018 - 11:00
O futuro do agronegócio passa, necessariamente, pelo fortalecimento de um ecossistema que integre pequenas e médias fazendas, a indústria e as novas tecnologias disruptivas. Ao garantir ganhos de produtividade e competitividade em um mercado extremamente comoditizado e pulverizado, a revolução tecnológica irá germinar novos agroempreendedores no campo e na cidade que, juntos, criarão um novo mercado para ajudar a enfrentar o aumento da demanda mundial por alimentos. Estas são discussões recorrentes nos maiores eventos de agtech e de agricultura de precisão do mundo realizados nos Estados Unidos e em outros países onde a tecnologia vem rapidamente convergindo com o agro. O mais surpreendente no mercado americano, particularmente, é a visão de sustentabilidade do agronegócio entre as gerações e a profissionalização do campo, mesmo em pequenas propriedades, garantindo a permanência das famílias em negócios rurais.
Há um forte estímulo de diversos atores da cadeia e um interesse das famílias proprietárias de fazendas pequenas e médias, com até mil hectares, para o uso de tecnologias de ponta, antes utilizadas apenas nas grandes propriedades. As agtechs, por sua vez, também recebem fortes incentivos do setor privado para o desenvolvimento de soluções que melhorem os resultados das safras.
E é assim, com um mercado bastante organizado em estruturas familiares inteligentes, integrando rural e urbano e aproximando startups das grandes fabricantes de alimentos, que o ciclo do agronegócio se perpetua, motivando, de um lado, quem está na terra a arregaçar as mangas para empreender e gerar riqueza e, do outro, a quem está no Vale do Silício a criar novas tecnologias que, ao final do dia, irão beneficiar toda cadeia, da fazenda até a indústria. Deste ecossistema está nascendo uma nova geração que irá aproximar a fazenda e a cidade para criar uma nova agroeconomia. Nos laboratórios das startups serão criadas as “enxadas digitais” para ajudar o Brasil a explorar todo seu potencial e sua vocação agrícola. É inegável que o agronegócio passará por grandes mudanças nos próximos anos. O exemplo americano nos mostra que o pequeno e médio agricultor podem – e devem – adotar as novas tecnologias, como soluções de Internet das Coisas, Inteligência Artificial, satélites, drones e biotecnologias, para adubar plantações dedicadas ao abastecimento e fornecimento de matéria prima aos fabricantes de alimentos. No Brasil, de acordo com o último Censo Agropecuário, as pequenas propriedades representam 84,4% dos estabelecimentos agropecuários brasileiros e um quarto da área agrícola, mas respondem por 38% do valor bruto da produção agrícola. O crescimento de produtividade vindo desses produtores tem um grande potencial.
Para conseguirem uma lavoura frutífera e abocanharem uma fatia do mercado de commodities, os pequenos e médios agricultores não terão outra saída senão investir, assim como os grandes agroempreendedores, em tecnologia, abrindo um mercado potencial ao desenvolvimento das agtechs nacionais que poderão, com o apoio do venture capital e da indústria, crescerem e se tornarem globais.
O momento para o agtech no Brasil não poderia ser mais fértil. O País é um dos principais produtores mundiais de alimentos e o agronegócio continua tendo peso significativo no Produto Interno Bruto (PIB). Há muitos empreendedores de tecnologia, assim como investidores, interessados no agro, entretanto, e este é um ponto de atenção, não necessariamente com a vivência necessária e conhecimento da cadeia produtiva para entender as dores no campo. A aproximação entre a empreendedores tecnológicos e fazendeiros, intermediada pelas grandes fabricantes de alimentos, é então mandatória. Se este caminho não for semeado em tempo, o País pode perder a colheita. E não seria nem um pouco recomendável o setor ficar de fora desta tendência.