20/07/2021 - 13:00
Oficialmente é Salão Nobre ou Salão de Honra. Mas, para os 250 mil visitantes que todos os anos realizavam o percurso interno do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, mais conhecido como Museu do Ipiranga, o imponente ambiente de 182 metros quadrados e mais de 10 metros de pé-direito, acessado pela escadaria monumental do edifício, sempre foi o coração do passeio.
No percurso expositivo planejado pelo historiador Afonso d’Escragnolle Taunay (1876-1958) um século atrás para celebrar o primeiro centenário da Independência, em 1922, coube a esse salão a exibição de dez telas importantíssimas para a própria criação do imaginário nacional – entre elas, Independência ou Morte, obra de 4,15 por 7,6 metros, pintada em 1888 por Pedro Américo (1843-1905) e que se tornaria a maior tela em exposição permanente em um museu de São Paulo.
Era de se esperar que esse espaço e suas obras merecessem um cuidado especial durante as obras de restauração e ampliação do edifício-sede do Ipiranga, em andamento desde outubro de 2019. O museu está fechado desde 2013, quando foi interditado às pressas por segurança. A previsão de reinauguração está mantida para 2022, no bicentenário da Independência.
Mas havia um problema: falta de caixa. “O Museu Paulista tem uma grande quantidade de obras que precisariam ser restauradas para a reabertura das exposições”, conta ao Estadão a arquiteta Rosaria Ono, diretora da instituição. “São 43 no total (incluídas as dez do Salão Nobre), com um custo aproximado de R$ 1,3 milhão.”
“No entanto, sua concretização dependia de verbas para a realização. O museu tinha, em seu orçamento, cerca de 20% do valor garantido.” Veio a ajuda, por meio de um programa de fomento artístico do Bank of America, dos Estados Unidos.
Dez meses de trabalho. O valor total investido pela instituição bancária não é divulgado, mas, conforme Ono, “o restauro de nove será contemplado pela doação do Bank of America, assim como a aplicação do verniz final do quadro Independência ou Morte” – a tela já vinha sendo recuperada, mas a conclusão do trabalho sofreu atrasos em decorrência da pandemia de covid-19. “Todos esses quadros compõem o Salão Nobre, o espaço mais visitado do museu antes do fechamento”, ressalta a diretora.
Responsável pela área de Meio Ambiente, Social e de Governança do banco na América Latina, o executivo Thiago Fernandes diz que “fazia tempo” que a instituição vislumbrava apoiar o Museu do Ipiranga.
“Além de representar uma documentação visual de importantes momentos históricos, seu acervo nos propicia refletir e admirar, nos conectar a nós mesmos e vivenciar emocionalmente acontecimentos passados”, destaca. “Quem quiser entender a construção da nação brasileira independente tem de passar pelo Museu do Ipiranga com tantas obras que refletem tanto em sua temática quanto em sua forma de expressão muitas características genuinamente nacionais.”
Há a previsão ainda da produção de um livro com os bastidores do restauro e a história dessas obras. O início deve ocorrer ainda em julho, e o cronograma prevê que as telas estejam prontas em maio do ano que vem. Independência ou Morte, cujas dimensões não permitem uma retirada segura do ambiente, teve o trabalho de restauro – e agora o terá a finalização – feito no próprio salão.
“A obra permaneceu na parede em que foi instalada desde 1895. Ela está protegida por uma estrutura metálica e vedações erguidas antes do início das obras de restauro arquitetônico do edifício e do salão”, conta o historiador Paulo César Garcez Marins, pesquisador do Museu do Ipiranga.
Segundo Marins, a última vez que esses trabalhos foram restaurados foi nas décadas de 1960 e 1970. “Nove das pinturas ficaram exibidas nessa salão ao longo de quase um século, sendo que Independência ou Morte está ali há cerca de 125 anos – e foi restaurada em 1972”, conta.
“O restauro atual de Independência ou Morte foi iniciado em 2019 com verbas da USP, em ação coordenada por nossa restauradora de pinturas, Yara Petrella”, conta ele. “Isso já permitiu que fossem retiradas camadas de verniz amarelecidas e que novos retoques fossem realizados com materiais compatíveis. As outras nove pinturas passarão por trabalhos profundos de restauro, como planificação, reentelagem, retoques, troca de chassis e molduras, restauro de dourações e aplicação de vernizes protetores.” O trabalho deve envolver cerca de dez profissionais.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.