Enquanto o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) debate quando iniciar a retirada dos estímulos à economia dos Estados Unidos, o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) dá um passo atrás na normalização monetária. A decisão da autoridade asiática de reduzir o compulsório dos bancos gerou até especulações de que o Produto Interno Bruto (PIB) do país no segundo trimestre pudesse vir mais fraco do que o esperado. No fim, a atividade econômica chinesa cresceu conforme o previsto de abril a junho. Mas analistas ainda veem riscos e apostam em mais medidas de estímulo. Alguns esperam até mesmo um corte de juros.

O compulsório é o montante mínimo de reservas que os bancos devem manter sobre seus depósitos. Quando a taxa é cortada, as instituições bancárias ficam com mais dinheiro livre para emprestar. Na prática, portanto, a medida tomada pelo PBoC é uma forma de estimular a economia, já que a quantidade de moeda em circulação aumenta.

Surpresa

A decisão foi recebida com surpresa no mercado porque o BC da China havia começado a reduzir a liquidez, conforme o país se recuperava da crise gerada pela covid-19. Alguns indicadores, contudo, já apontavam uma desaceleração. As vendas de carros, por exemplo, tiveram queda anual de 5,1% em junho, após uma sequência de 11 meses em alta.

A economista-chefe do ING para a China, Iris Pang, diz esperar que o corte do compulsório proteja a economia chinesa dos riscos representados pela variante Delta do coronavírus, a “guerra tecnológica” entre Pequim e Washington e a escassez global de semicondutores. “A menos que esses fatores de risco diminuam, outro corte de RRR (sigla em inglês para a taxa do compulsório) é esperado no próximo trimestre.”

O anúncio da redução do corte da taxa do compulsório foi feito no dia 9. A medida não era tomada desde abril do ano passado. Com o corte de 0,50 ponto porcentual, a média ponderada do compulsório bancário no país ficou em 8,9%. O principal objetivo, segundo o próprio governo chinês, é apoiar pequenas e médias empresas.

“Embora as implicações práticas imediatas do corte de RRR sejam pequenas, isso marca uma mudança em direção a esforços mais proativos do PBoC para reduzir os custos de empréstimos”, afirma o economista-chefe para Ásia da Capital Economics, Mark Williams.

Na visão do chefe do escritório de investimentos do Julius Baer, Yves Bonzon, a medida foi resultado de preocupações crescentes das autoridades chinesas com as perspectivas econômicas. “Foi uma clara mudança de uma postura de política monetária mais rígida para conter a alavancagem financeira em direção a uma postura de política mais frouxa para estimular o crescimento”.

Especulação

Dias depois do anúncio, o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, foi a público dizer que o governo não adotaria medidas de estímulo de forma “exagerada”. Como o mercado havia sido pego de surpresa, de certa forma, operadores começaram a especular se as autoridades do país asiático teriam informações de que a atividade econômica estivesse pior do que estava sendo esperado.

Os rumores, contudo, não se confirmaram. O Produto Interno Bruto (PIB) chinês desacelerou de um crescimento de 18,3%, no primeiro trimestre, para expansão de 7,9% de abril a junho, mas dentro do esperado. Além disso, as vendas no varejo e a produção industrial avançaram mais no mês passado do que os analistas previam.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.