Cerca de 19 milhões de pessoas. Esse é o contingente de brasileiros que trabalham diuturnamente sob sol ou chuva — ou falta dela — para que o agronegócio siga como uma das mais importantes atividades econômicas do Brasil. Foram essas pessoas que conseguiram vencer 2021 a despeito de pandemia, mudanças climáticas e problemas estruturais para fazer a agroindústria superar o marco de US$ 1,1 trilhão de Valor Bruto de Produção. Como forma de homenagear cada um desses milhões de profissionais, a equipe da DINHEIRO RURAL selecionou cinco nomes que surpreenderam o mercado no ano passado por seus resultados, conquistas e contribuição para o setor. Nas próximas páginas, o leitor da revista conhecerá as razões que fizeram o conselho editorial eleger Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola, como Personalidade do Ano; Celso Moretti, presidente da Embrapa, o destaque na categoria Ciência; Aline Locks, fundadora e CEO da Produzindo Certo, na categoria ESG; Maurício Rodrigues, presidente Crop Science
da Bayer para América Latina, em Pesquisa e Desenvolvimento; e Frederico Humberg, da Agribrasil, como Empreendedor.

PERSONALIDADE DO ANO
Compromisso com a alta performance

Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola, foi o articulador das aquisições que tornaram o grupo agrícola o maior do Brasil com 669 mil hectares (Crédito:Kelsen Fernandes)

Romualdo Venâncio

O ano está só começando, mas o diretor-presidente da SLC Agrícola, Aurélio Pavinato, já tem muito o que comemorar. Inclusive porque no dia 9 de dezembro de 2022 completará uma década no comando da empresa. Já são quase dez anos à frente de uma das maiores companhias do agronegócio mundial, com a missão de manter — e intensificar — a altíssima performance das lavouras de algodão, soja e milho, e de todas as demais atividades do grupo.

Outro grande motivo para celebrar é que, no ano passado, a SLC adquiriu as operações da Terra Santa Agro S.A. e da Agrícola Xingu, ampliando sua área de plantio em mais de 44% e tornando o grupo agrícola o maior do Brasil à frente dos concorrentes Bom Futuro e Amaggi.

Agora são quase 669 mil hectares distribuídos em 22 unidades de produção, localizadas em sete estados. Essa negociação ainda garantiu que a empresa ultrapassasse, pela primeira vez, a marca de R$ 1 bilhão no valor de Ebitda ajustado. Para Pavinato, esse resultado é consequência do aperfeiçoamento das estratégias do grupo em três pilares: investimento em pessoas, melhoria de processos e tecnologia. “Meu papel é liderar tudo isso”, afirmou o executivo.
A SLC Agrícola é referência em processos produtivos, aplicação de tecnologia e sustentabilidade. “Uma de nossas metas de crescimento é sermos protagonistas em ESG”, disse Pavinato. A empolgação do executivo ao falar sobre as conquistas do grupo só não é maior do que quando se refere às equipes por trás desse progresso. “É o investimento em pessoas que nos proporciona ganhos com melhoria de processos e tecnologia.”

CIÊNCIA NO CAMPO
O desafio de comunicar o agronegócio

Celso Moretti, presidente da Embrapa, direciona a entidade a trabalhar por uma agricultura mais sustentável e luta pela reconstrução da imagem do setor (Crédito:Sergio Lima)

Renata Duffles

Os dois anos à frente da presidência da Embrapa têm sido desafiadores para Celso Moretti, desde o começo. “Havia uma cobrança para entregar resultados e a imagem da instituição estava arranhada”, afirmou o presidente, que entrou na empresa em 1994. Segundo ele, logo após a reorganização interna, com a escolha da nova diretoria executiva, vieram também uma reconexão com o agro brasileiro e a aproximação com o setor privado na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D), o que permitiu aumentar o número de projetos. Com seis meses no cargo, veio a pandemia da Covid-19. Mas, assim como o próprio agronegócio, a Embrapa não parou. Pelo contrário, bateu recorde de lucro em 2020, com R$ 67 bilhões.

Moretti se diz um otimista realista. Sabe dos problemas urgentes do País, como o desmatamento ilegal, mas não acha justo que pautem a imagem do agronegócio só por isso. E é exatamente neste ponto que está um dos maiores desafios do setor: se comunicar melhor para melhorar sua reputação, mostrando e comprovando que é possível produzir e preservar. Foi esse um dos objetivos do executivo ao representar a Embrapa na COP-26, em novembro.
Em Glasgow, capital da Escócia e sede do evento, Moretti mostrou avanços feitos ao longo de três décadas na agricultura de baixo carbono e no mapeamento dos níveis de carbono no solo. “A agricultura brasileira é movida à ciência”, disse. Para Moretti, houve quem apostasse que o Brasil sairia menor do que entrou na COP-26, mas o contrário aconteceu. E vem muito mais por aí. “Os próximos pilares a serem trabalhados são agricultura digital voltada para Internet das Coisas e Inteligência Artificial, bioeconomia, intensificação sustentável e biologia sintética.”

PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
Evolução tecnológica com inclusão

Maurício Rodrigues, presidente da Bayer Crop Science na América Latina, tem planos para explorar o desenvolvimento de novas ferramentas e soluções para a agricultura digital na região (Crédito:Reinaldo Canato / Bayer)

Romualdo Venâncio

Desde que assumiu a presidência da Bayer Crop Science (divisão agrícola da companhia) na América Latina, em junho do ano passado, Maurício Rodrigues tem a missão de alinhar a sustentabilidade com a maior inteligência no campo. Para o executivo, é fundamental comprovar que lucratividade e desenvolvimento sustentável não são antagônicos. Ao contrário. “São dois fatores que precisam andar sempre juntos”, afirmou à RURAL. E a tecnologia é essencial para estabelecer tal sinergia.

Por ser o maior mercado da companhia na América Latina, o Brasil é também o local de grandes descobertas científicas e de criação de novas tecnologias para o campo. “Há um potencial especialmente amplo a ser trabalhado na frente de agricultura digital, e já atuamos com diversas soluções nessa área”, afirmou Rodrigues. Outro reflexo dessa relevância: é no agronegócio brasileiro que mais cresce a adoção da plataforma de agricultura digital da Bayer Climate FieldView, que contém mais de 60 milhões de hectares mapeados nos Estados Unidos, Canadá, Europa e América Latina.

Rodrigues está à frente de um negócio que faturou 3,29 bilhões de euros, entre janeiro e setembro de 2021, e que emprega cerca de 5 mil pessoas, das quais 4,5 mil estão no Brasil. Um de seus diferenciais como liderança na empresa é exatamente a forma equilibrada com que olha para resultados e para gente. O executivo é o patrocinador do BayAfro, projeto que facilita a entrada, a retenção e o desenvolvimento de pessoas negras na companhia. “Mas também sigo apoiando e envolvido em outras temáticas dentro da diversidade, como gênero, LGBTQIA+, gerações e pessoas com deficiência”, afirmou.

ESG (AMBIENTAL, SOCIAL E DE GOVERNANÇA)
Boas práticas para a cadeia produtiva

Aline Locks, CEO da Produzindo Certo, dissemina boas práticas ambientais em mais de 6 milhões de hectares no Brasil (Crédito:Marco Ankosqui)

Lana Pinheiro

Quando se formou em engenharia ambiental no Mato Grosso do Sul, Aline Locks tinha pouca vivência no campo. Apesar de morar em um dos estados que mais contribui para a agropecuária do País, seus pais eram professores e sua infância foi longe das fazendas. Mas mesmo assim a porteira bateu à sua porta e, ainda durante a faculdade, agarrou a oportunidade de se unir ao time da Aliança da Terra — ong que trabalha com proteção do meio ambiente em harmonia com a produção agropecuária. Sem saber, começava a semear a Produzindo Certo.

O momento para a criação da empresa — que nasceu com o foco de viabilizar as melhores práticas ESG (ambiental, social e de governança) na cadeia do setor — não poderia ser melhor. Poucos meses após o seu lançamento em 2019, Larry Fink, CEO do fundo BlackRock, divulgou uma carta (em janeiro de 2020) em que classificava as ameaças climáticas como riscos de negócio. O mundo financeiro passou a olhar para o agronegócio como parte do problema e da solução. Ponto para os sócios que acertaram no modelo de negócio: o foco da Produzindo Certo são as grandes empresas que precisam que seus fornecedores estejam em conformidade. “O pequeno agricultor precisa de apoio nessa jornada”, afirmou Aline.

Três anos depois a estratégia apresenta resultados consistentes. Com clientes como Unilever, Bayer e ADM, a empresa trabalha com 3,2 mil propriedades, o que representa 6,4 milhões de hectares no Brasil e já está iniciando operações no Paraguai, México e Colômbia. Para 2022, a meta é adicionar mais 2,8 mil propriedades na plataforma e entrar na Argentina. E Aline avisa, “não importa o tamanho da fazenda”. O objetivo é democratizar o ESG e contribuir para o agro nacional.

EMPREENDEDOR
Um novo modelo de operar grãos

Frederico Humberg, CEO da Agribrasil, fundou a empresa em 2016 com recursos próprios e faturou mais de R$ 1,6 bi em 2021 (Crédito:Claudio Gatti)

Romualdo Venâncio

OCEO e fundador da Agribrasil, Frederico Humberg, tem uma nova preocupação neste início de ano. Na verdade, está mais para satisfação. Foi programado para janeiro o início das obras de adequação do terminal portuário que a empresa adquiriu, em outubro de 2021, em São Francisco do Sul (SC). A instalação com três entradas para navios, sendo duas para graneis, estará pronta já no ano que vem. Mas operando com capacidade total, de 7 milhões de toneladas por ano, só em 2025. “Somos muito parceiros de modais logísticos, mas havia dificuldade de sermos um player importante no Sul”, afirmou.

A aquisição desse terminal reflete a visão estratégica com a qual Humberg vem gerindo a companhia desde sua fundação, buscando sempre estar à frente do mercado. “Quando montamos a empresa, em 2016, não era preciso ter balanços auditáveis, e nós implantamos”, disse. Por já ter nascido dentro do conceito de ESG, a Agribrasil se tornou uma referência. “Muitas empresas do nosso negócio são do interior, onde nem sempre são tão fortes esses conceitos, e estão sendo impactadas.”

Essa postura tem dado resultado. Quatro anos após sua fundação, a Agribrasil faturou R$ 1,4 bilhão. E seguiu avançando. Até o terceiro trimestre de 2021 esse valor já estava em R$ 1,6 bilhão. Para Humberg, uma das contribuições da empresa ao agronegócio brasileiro é atrair para o País compradores estrangeiros de mais de 40 nacionalidades diferentes em busca de milho e soja. “Há clientes que nunca haviam comprado aqui, seja por medo em relação à qualidade, seja por qualquer outro motivo. A gente trabalha muito a imagem do setor.”