10/03/2022 - 17:00
Um personagem desconhecido da política ganhou destaque na rotina de Jair Bolsonaro e no círculo restrito da família do presidente. O pecuarista Bruno Scheid, de Ji-Paraná (RO), apontado como principal responsável por uma arrecadação de campanha para a reeleição em um grupo de ruralistas, tem a porta aberta ao epicentro do poder federal. Ele surpreendeu o meio político ao revelar proximidade com as duas pessoas de maior intimidade com o presidente: a primeira-dama Michelle Bolsonaro e o filho e vereador Carlos Bolsonaro – dos quais poucos conseguiram se aproximar.
Scheid também tem livre acesso ao gabinete presidencial do 3º andar do Palácio do Planalto. Na última segunda-feira, quando Bolsonaro recebeu um grupo de pecuaristas fora da agenda – o encontro só apareceu registrado no dia seguinte – o pecuarista de Rondônia estava sentado ao lado esquerdo do presidente – na semiótica da política, uma demonstração de poder e prestígio. A reunião foi anunciada com antecedência no WhatsApp pelo próprio Scheid a possíveis doadores de campanha.
À direita do presidente no encontro estavam a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o ministro da Economia, Paulo Guedes. Segundo ruralistas declararam ao Estadão, Scheid atua de forma incisiva e sem rodeios na busca por doações para a campanha de Bolsonaro. O pedido de recursos desagradou a parte dos pecuaristas abordados.
VIVA VOZ
Aos 38 anos, o pecuarista exibe nas redes sociais uma foto abraçado a Carlos, em geral avesso até a políticos bolsonaristas que, embora aliados do pai, ele entende serem “aproveitadores”. O filho do presidente interagiu de forma amistosa e mandou um “forte abraço”. Com Michelle, a relação foi além das redes. No interior de Rondônia, Scheid realiza, desde o começo deste ano, reuniões eleitoreiras em que telefona à primeira-dama e a coloca, com a chamada em viva voz, em diálogo com apoiadores do presidente e moradores de vilarejos rurais. Nessas chamadas, Michele enaltece a ligação de Scheid com Bolsonaro.
Além de furar a bolha da família presidencial, Bruno Scheid tem atropelado antigos aliados de Bolsonaro do agronegócio e se colocado como o interlocutor para obtenção de dinheiro. A iniciativa assustou um setor que, na eleição de 2018, ajudou a eleger Bolsonaro sem centralizar a arrecadação. A preocupação dos ruralistas também tem a ver com as suspeitas de que ele agiria como interlocutor do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) – os dois coordenam a preparação da campanha bolsonarista.
O passe livre de Scheid vai além. Até as aeronaves presidenciais se abriram a ele. O pecuarista compôs a comitiva que viajou no avião do presidente de Brasília a Porto Velho (RO), em fevereiro, para um encontro com o presidente do Peru, Pedro Castillo. Sentou-se ao lado do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno.
Na véspera da manifestação bolsonarista de 7 de Setembro, no ano passado, Bolsonaro o convidou para sobrevoar Brasília num helicóptero da Força Aérea Brasileira. Scheid era uma das lideranças rurais que ocuparam a Esplanada dos Ministérios nos dias seguintes, com palavras de viés autoritário, e que causaram temor de ruptura e invasão do Supremo Tribunal Federal.
Scheid nega que tenha organizado reunião de pecuaristas no Planalto, que atue como arrecadador de Bolsonaro e até mesmo que é filiado ao PL, embora tenha compartilhado imagem de Costa Neto para anunciar sua entrada no partido.
Ele também figurou nas páginas policiais de Rondônia, como autor e vítima, em situações de crimes ligados ao conflito de terras. Em 2012, Scheid teria efetuado uma série de disparos com arma de fogo em direção a um sem-terra, em Alvorada do Oeste (RO). Denunciado pelo Ministério Público, Scheid foi absolvido em 2015, por falta de provas. Três anos depois, em 2018, uma fazenda de sua família teria sido assaltada por 15 homens armados, a 400 quilômetros de Porto Velho. O pecuarista, a mulher, Sueli Scheid, a mãe e a filha teriam sido feito reféns e abandonadas na estrada. O episódio o fortaleceu politicamente no Estado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.