Após oscilar para o negativo no fim da tarde, o Ibovespa conseguiu manter a linha de 111 mil pontos pela quarta sessão seguida, neste encerramento de maio, vindo na segunda-feira de perda de 0,81%, a primeira desde o último dia 18. Apesar dos avanços comedidos desde 24 passado, a referência da B3 fechou o mês com ganho de 3,22%, retomando o sinal positivo que prevaleceu de dezembro a março, interrompido pela queda de 10,10% em abril – a pior desde o mergulho de 29,90% em março de 2020, no auge da aversão a risco à covid-19.

Nesta terça-feira, com Nova York firmando-se no negativo no fim do dia, o Ibovespa chegou a devolver os ganhos moderados observados desde a manhã, mas encerrou em leve alta de 0,29%, aos 111.350,51 pontos, guiado por moderada recuperação em Petrobras (ON +0,76%, PN +0,23%), por desempenho favorável dos bancos (BB ON +1,52%, Itaú PN +0,93%), bem como das utilities (Cemig PN +3,83%, na máxima do dia no fechamento; Eletrobras PNB +0,82%).

Na ponta do índice, destaque para Marfrig (+5,54%), IRB (+4,63%), BRF (+3,99%) e Cemig (+3,83%). No lado oposto, Hapvida (-3,59%), Magazine Luiza (-3,12%) e Méliuz (-3,06%). Reforçado, o giro financeiro foi a R$ 37,7 bilhões nesta última sessão do mês.

Na semana, o Ibovespa cede 0,53%, com ganho no ano a 6,23%. No melhor momento do mês, ontem, o índice chegou a 112.690,15 pontos durante a sessão, maior nível intradia desde 22 de abril (114.343,30). Entre a mínima e a máxima desta terça-feira, foi dos 110.685,49 aos 111.902,64, com abertura a 111.035,69 pontos.

“Houve ajustes técnicos hoje, em grande parte em oposição ao movimento que ocorreu ontem, com destaque agora para Banco do Brasil, após queda ontem, ajudando outros grandes bancos nesta terça-feira. E também as utilities em geral, destaque do dia ao lado do setor financeiro, segmento beneficiado no ano em cenário de inflação alta, e que tem entregue bons resultados”, diz Luiz Adriano Martinez, portfólio manager da Kilima Asset.

Contudo, as constantes críticas de autoridades do governo, a começar pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), têm segurado as ações da Petrobras em meio à retomada da escalada dos preços globais da commodity, o que resulta em algum descolamento do Ibovespa de dias de apetite por risco no exterior. Nesta terça, em entrevista ao apresentador Ratinho, na Massa FM, Bolsonaro acenou novamente com a ideia de “fatiar” a empresa. “A privatização da Petrobras leva no mínimo quatro anos. Tenho uma ideia de fatiar a Petrobras. Realmente não está dando certo atualmente”, afirmou o presidente.

Além de Bolsonaro, aliados como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), têm redobrado a carga contra a gestão da estatal, ante sinais desfavoráveis de pesquisas eleitorais que indicam a possibilidade de o opositor Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também crítico da política de preços da Petrobras, vencer a disputa ainda no primeiro turno. A constatação de que os estoques de diesel no País são suficientes para cerca de 40 dias de consumo é um ingrediente que torna a situação dos combustíveis, e o efeito sobre a inflação, ainda mais problemática.

“A questão do diesel é bem interessante para entender o grande ‘abacaxi’. A Petrobras é quase monopolista no mercado de diesel, mas não totalmente, porque possui pouco mais de 50% da oferta. Mas determina preço. Então, na medida em que fixa preço para baixo, os importadores param de trazer diesel porque deixa de ser rentável, deixam de ser competitivos com Petrobras”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. “No limite, esse tipo de política leva a desabastecimento, porque é como se a Petrobras forçasse uma espécie de ‘dumping’, vendendo um diesel mas barato, mas sem capacidade de refino para atender o País inteiro”, acrescenta.

Por outro lado, os juros futuros tiveram reação favorável à tarde – após terem ‘aberto’ pela manhã – ao que o mercado interpretou como sinais um pouco mais “dovish” do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, diz Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos.

Em audiência na Câmara, observa o economista, Campos Neto mostrou um gráfico em que há uma ancoragem importante para as expectativas de inflação no Brasil para 2023, dentro do intervalo das metas, enquanto permanecem fora em outros países. “E também que o BC sempre busca altas de juros com menor impacto possível sobre a economia”, acrescenta Costa, que espera mais uma alta na Selic, na próxima reunião, deixando em aberto o viés para a seguinte, em agosto.