08/10/2022 - 8:06
Nas últimas semanas, a agenda de Belmiro Gomes tem ficado ainda mais cheia. Além dos compromissos diários de um presidente de uma das gigantes do atacarejo do País, o Assaí, o executivo vem participando das aberturas das novas lojas da rede, muitas que são reflexo da aquisição dos 70 hipermercados do Extra agora convertidos para a nova bandeira. Apenas neste ano serão 40 lojas pelo País a ganhar o novo “traje”. Na última sexta-feira, antes das 9h, o executivo já estava na inauguração de uma loja em Interlagos, zona sul de São Paulo. E o dia de trabalho, como de costume, só terminou 12 horas mais tarde.
“Quem vai a uma inauguração sempre vai se lembrar quando passar na frente da loja. E é preciso dar o exemplo”, afirma o executivo, que chegou ao cargo em 2011, quando o Assaí tinha menos de 40 lojas e estava presente em poucas regiões do Brasil.
Ao longo de uma década esse número se multiplicou por cinco. Hoje, tem mais de 230 pontos de venda. E quem conhece Belmiro repete que o executivo é do tipo “barriga no balcão”, conferindo a operação muito de perto. “Se continuar assim, pode ficar doente”, diz um conhecido. Belmiro, contudo, diz ao Estadão que não há motivo para seu preocupação. Pai de quatro filhos e de dois enteados, Belmiro soube recentemente que será avô. E garante que os fins de semanas são quase sempre livres e dedicados à família.
Outra definição que sempre é associada ao executivo é o fato de ele ter conseguido fazer o Assaí virar um gigante sem perder o “espírito” do negócio: o custo enxuto, que permite preços mais baixos ao consumidor. Belmiro diz que sua origem humilde o ajuda a entender a importância de se vender barato. “Conseguir vender um produto com um preço 15% mais baixo sempre me fascinou”, diz.
Nascido em Santo André, na Grande São Paulo, Belmiro se mudou para a cidade paranaense de Maringá aos 8 anos, depois que seu pai adoeceu e a mãe decidiu ficar mais perto de sua família. Irmão do meio de três filhos, o presidente do Assaí começou a trabalhar cedo, vendendo sorvetes, engraxando sapatos e até como boia-fria. “Tive minha primeira carteira assinada aos 13 anos”, relembra.
Grande salto
O trabalho diário no Assaí tem rendido frutos. O feito do aumento das lojas se reflete hoje no valor da empresa. De uma empresa comprada pelo GPA, dono do Pão de Açúcar, por cerca de R$ 400 milhões (primeira parte adquirida em 2007 e o restante em 2009), a rede se transformou em uma gigante de valor de R$ 27 bilhões na Bolsa brasileira. O negócio foi separado do GPA e hoje já é um filhote maior do que a empresa-mãe, hoje avaliada em R$ 6 bilhões.
Belmiro está há 35 anos no setor de alimentos, começando em uma rede paranaense, a Musamar, quando estava com apenas 15 anos de idade . De lá, foi trabalhar no Atacadão, onde ficou por duas décadas. Ele chegou à rede antes mesmo de a varejista ser comprada pelo Carrefour, em 2007, por R$ 2 bilhões. O executivo, hoje com 50 anos, lembra toda a evolução do modelo do atacarejo no País – inicialmente, era um formato distante do consumidor e exigia cartão para compras. “No início, o modelo era muito espartano e nosso calcanhar de Aquiles era que não se tinha uma boa experiência de compra”, lembra.
De lá para cá o modelo do atacarejo mudou. Belmiro afirma que atualmente 93% do sortimento dos hipermercados já é encontrado no atacarejo. Uma das lacunas fechadas recentemente foi a instalação de açougues nas lojas, uma demanda antiga da clientela. O executivo frisa que é necessário olhar de perto a necessidade de cada bairro onde está instalada a loja para se entender as necessidades de consumo. Por isso, algumas unidades têm até adega de vinhos.
Agora, ao entrar nos bairros, o Assaí não só se aproximará dos clientes pessoas físicas, mas também de pequenos negócios, como bares e restaurantes. Esses pequenos negócios não têm capital de giro para ter estoques, especialmente de produtos perecíveis, o que exige que seus donos façam compras várias vezes na semana.
Presidente da Sociedade Brasileira do Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra afirma que Belmiro tem demonstrado, ao longo de sua trajetória, disciplina estratégica de manter o modelo de atacarejo fiel à sua proposta original. “Os ajustes que ocorreram são muito finos. Manteve-se sortimento enxuto e grandes volumes para se conseguir ter uma equação de preço e boa margem”, aponta.