08/10/2022 - 12:34
As jornadas de trabalho no agronegócio podem ser extensas e exaustivas, pois a dedicação a lavouras e rebanhos vai além dos padrões corporativos. Nada que tire o brilho dos olhos ou reduza a paixão de quem se dedica ao campo, mas uma pausa de vez em quando se faz necessária e é mais do que merecida. É preciso relaxar o corpo e a mente, renovar as ideias e recarregar as energias. Para muita gente que atua no setor, essa ‘terapia’ acontece quando se está sobre um motocicleta de alta cilindrada, ouvindo o som ao redor se misturar com o barulho do motor, conversando com seus próprios pensamentos enquanto a paisagem vai ficando para trás.
Esse é o sentimento descrito por Mariely Biff, especialista em sucessão e governança familiar no agronegócio, quando pilota sua custom pelas estradas que cortam e contornam Diamantino, em Mato Grosso, a cidade onde mora, a cerca de 180 quilômetros de Cuiabá. “Gosto muito de andar nessas redondezas, passando pelas lavouras, vendo o que adoro, a agricultura”, afirmou Mariely, que tem uma Night Rod da Harley-Davidson. “Sempre gostei de moto, da sensação de liberdade, do prazer de rodar pela estrada, esquecer da vida e voltar com a cabeça zerada.”
Com suas 1.250 cilindradas, a ‘máquina’ preta com detalhes em laranja chega aos 115 CV e tem velocidade máxima de 240 quilômetros por hora. O modelo de 2014 é uma edição especial desenvolvida em parceria pela Harley-Davidson e pela Porsche. Mariely conta que era um desejo de seu marido, e que ela até preferia outros modelos. “Gosto das esportivas, mas não seria tão confortável”, disse, fazendo uma referência à altura do casal. Ela tem 1,76m e o marido, 1,92m.
Mariely se diverte contando que, quando compraram a Night Rod, nem sabia ligá-la. Já fazia algum tempo desde sua última motocicleta, uma Honda Biz. Foi uma mudança brusca. “Mas moto e bicicleta, depois que se aprende a andar, é só adaptar peso e equilíbrio”, afirmou. A consultora, que é uma das autoras do livro As Mulheres do Agro, tem ajudado diversas empresas e famílias do meio rural a encontrarem o equilíbrio, a direção e a velocidade mais adequada para sua gestão.
NAS ALTURAS O pecuarista Francisco Maia, de Campo Grande (MS), é outro apaixonado pelas duas rodas, atração que vem desde a década de 1980. Hoje, Chico, como é mais conhecido, encontra nas viagens de moto uma fonte da juventude. Aos 65 anos, tem a sensação de voltar aos 20, pela emoção e porque enquanto está sentado sobre sua BMW Adventure GS 1250, pilotando, não sente dor de nada. “Mas depois dói tudo”, disse o criador de gado de corte, que também investe em plantio de soja e cultivo de floresta. Como sugere o nome dessa big trail, são 1.254 cilindradas e potência máxima de 136 CV.
Chico voltou recentemente de uma viagem de 14 dias e 7 mil quilômetros. Em agosto, foi com três amigos de Campo Grande (MS), onde mora, até Machu Picchu, no Peru. “Já fiz viagens por quase todos os caminhos dos Andes, mas ainda não tinha ido para lá”, disse. Essa foi a quinta viagem de Chico pela América do Sul de moto. Agora, ao todo, já são 30 mil quilômetros rodados, sendo 15 mil deles pela Cordilheira dos Andes.
Para o pecuarista, é maravilhoso contemplar a paisagem da Cordilheira. “Você percebe o quanto é pequeno diante de tudo aquilo”, disse. Nessa viagem, Chico e os amigos saíram de Campo Grande e atravessaram a Bolívia, passando por Cochabamba, La Paz e pelo Lago Titicaca, já na fronteira. No território peruano, seguiram em direção a Cusco e depois Machu Picchu. “É um lugar admirável! Fico imaginando como fizeram tudo aquilo, é como se fossem as pirâmides do Egito na América do Sul.” Na volta, atravessaram direto para o Brasil, entrando pelo Acre, passando por Rondônia e Mato Grosso, até retornar a Mato Grosso do Sul.
Segundo Chico, uma viagem como essa é uma experiência de autoconhecimento. Por mais que tenha companhia nas estradas, está sozinho em sua moto, rodando de 13 a 15 horas por dia. “Dá tempo para pensar em tudo e voltar com novas ideias, é uma aventura que fortalece o espírito”, afirmou. Além disso, é uma chance de rever os próprios limites. “Você nunca deve achar que não dá mais conta das coisas, que está velho demais.” Para o pecuarista, o tempo não é um fator limitante, a saúde, sim.
MERCADO Motos como a de Chico vêm ganhando espaço no Brasil e entre o público do agronegócio. São equipamentos de alta potência que alcançam bom desempenho tanto no asfalto quando fora dele. Segundo o gerente sênior de Vendas da BMW Motorrad Brasil, Márcio Cesena, o GS que aparece nos modelos da categoria é uma referência a essa abrangência, pois vem de Gelände Strasse, ou estrada de terra. “Essas motos têm muita versatilidade e muita tecnologia embarcada. Você pode fazer uma viagem longa de forma confortável”, disse.
Segundo Cesena, essa questão do conforto é um destaque nas GS, tanto pela adequação do “triangulo da ergonomia”, que envolve pedais, assento e guidão, quanto pelas regulagens. Dependendo da viagem, o piloto pode acionar o cruise control, que fixa uma velocidade e não precisa ficar acelerando, ou o adaptive cruise control, que identifica a aproximação de algum veículo.
Se por um lado o maior interesse do público pelas nas big trails é uma grande oportunidade para as montadoras, por outro é um enorme desafio, especialmente para as equipes de desenvolvimento e de vendas. “Esse pessoal conhece muito sobre os equipamentos, são consumidores muito exigentes”, afirmou o diretor comercial da Honda, Marcelo Langrafe. De acordo com o executivo, o mercado de alta cilindrada é bastante estratégico para a empresa. “Cresceu 16% no primeiro semestre de 2022, em comparação ao mesmo período do ano passado. E ainda há muito potencial para avançar.”