23/01/2023 - 18:22
Assim como é preciso quebrar os ovos para se fazer um omelete, também é necessário quebrar paradigmas para se mudar uma cultura de consumo. Esse é o caminho trilhado pela Raiar Orgânicos desde o início de suas operações em abril desse ano. Durante esses seis meses, ou um pouco mais, o conceito que vinha da essência do planejamento ganhou novas proporções e revelou outras possibilidades de negócios. O primeiro passo com a produção de ovos abriu o caminho para uma ampla e intensa atuação na cadeia de orgânicos: fabricação e fornecimento de ração, incentivo e apoio à conversão de produtores de milho e avicultores convencionais e a expectativa da entrada em outras proteínas animais e vegetais.
A partir de um investimento de R$ 200 milhões, os sócios Marcus Menoita, Luis Barbieri e Leandro de Almeida querem, em quatro ou cinco anos, formar um plantel de 700 mil aves com produção diária entre 500 mil e 600 mil ovos. O ritmo parece estar indo bem na fazenda de 170 hectares localizada em Avaré (SP). Do total de 40 mil aves no começo, com metade produzindo, já são 80 mil e quase todas em produção, com volume diário de 75 mil ovos. “O plano é crescer em módulos de 80 mil, e já estamos prontos para a largada do próximo”, afirmou Barbieri. Até junho de 2023 serão 160 mil galinhas no total.
Essa expansão não seria possível sem o fornecimento da ração adequada aos padrões da produção orgânica. “A nutrição é o coração do negócio, pois responde por 80% da nossa produção e tem impacto direto no bem-estar animal e na rentabilidade”, disse Barbieri. Dessa necessidade surgiu a parceria com nove agricultores familiares nos arredores da fazenda para ter o milho orgânico. Agora já são quase 100, inclusive de outras regiões e com diferentes perfis. Há desde os que moram na fazenda e cultivam 20 hectares até os que têm mais área e fazem rotação com outras lavouras também orgânicas.
A partir dessas parcerias, a Raiar já consegui garantir o abastecimento de milho para todo o ano de 2023. “Temos até excedente de grãos para negociar”, afirmou Menoita. Essa visão de escala deu origem à maior fábrica de ração orgânica do País, uma estrutura totalmente automatizada com capacidade de atender até 1,5 milhão de aves, mais do que o dobro da meta da empresa. “O abastecimento de milho está deixando de ser um problema para que outros avicultores façam a conversão.” Segundo o empresário, a companhia ainda pode ajudar quem cultiva o milho e quem produz as aves em todo o processo para certificar a produção orgânica.
RETORNO Diante das as exigências para essa mudança de sistema produtivo, é natural o questionamento sobre a agregação de valor ao negócio. Essa é uma equação que a Raiar também vem trabalhando desde o início. De acordo com os sócios da empresa, o ovo orgânico chega ao consumidor final com valor entre 30% e 40% maior do que o do caipira – a bandeja da Raiar com dez unidades custa R$ 18 – e há uma parcela de 3% a 5% da população que pode pagar essa diferença de preço.
A confirmação tem vindo pelas parcerias já fechadas com redes de varejo para a venda dos ovos: BIG, Natural da Terra, Mambo, Zaffari, Quitanda, Santa Gemma, Raízs, Santa Luzia e St. Marche. Muito da aceitação por essas lojas vem, além da qualidade do produto, da distinção do orgânico em relação a outros sistemas de postura, como o caipira ou o cage free, segundo os sócios da Raiar. “Esses termos, por si só, não garantem o mesmo rígido controle que temos, com regulação, auditoria e certificação”, disse Menoita. “Inclusive, foi por isso que escolhemos o nome Raiar, para jogar luz sobre esse debate.”
De tão convencidos que estão sobre as oportunidades de avanço no segmento de orgânicos, os sócios da Raiar já decidiram entrar na produção de outras proteínas, animais e vegetais. “Só falta definirmos quando e como”, afirmou Menoita. Enquanto essa decisão não vem, toda a operação da Raiar continua relacionada às galinhas. Menos o voo.