13/04/2023 - 7:55
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu, em seu primeiro discurso durante a visita oficial à China, o combate à pobreza e as reformas dos organismos multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Lula afirmou ainda que o Brasil “está de volta” ao cenário internacional após uma “inexplicável” ausência.
“O tempo em que o Brasil esteve ausente das grandes decisões mundiais ficou no passado”, disse o presidente na cerimônia de posse de Dilma Rousseff no comando do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), o chamado de banco dos Brics – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Lula afirmou que o NDB “tem um grande potencial transformador”, pois “liberta os países emergentes da submissão às instituições financeiras tradicionais”.
Além dos quatro novos membros que ganhou recentemente – Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos e Uruguai – Lula disse que “vários outros” países estão em vias de adesão à instituição. “E estou certo de que a chegada da presidenta Dilma contribuirá para esse processo”, afirmou.
O fato de uma mulher comandar “um banco global de tamanha envergadura” já é por si só “um fato extraordinário”, disse Lula. “Mas a importância histórica deste momento vai mais além”, emendou, falando que a ex-presidente do Brasil, que assume seu primeiro cargo público desde que sofreu um impeachment em 2016, pertence a uma geração que nos anos 70 lutou para “colocar em prática o sonho de um mundo melhor – e pagaram caro, muitos deles com a própria vida”.
“As necessidades de financiamento não atendidas dos países em desenvolvimento eram e continuam enormes”, disse Lula, defendendo “reformas efetivas” das instituições financeiras tradicionais como uma forma de aumentar os volumes e as modalidades de empréstimos.
Reformas nos organismos multilaterais
Ao falar das reformas nos organismos multilaterais, Lula citou a Organização das Nações Unidas (ONU), além do FMI e do Banco Mundial, e cobrou que os países emergentes utilizem “de maneira criativa” o G-20, o grupo dos países mais ricos do mundo, com “o objetivo de reforçar os temas prioritários para o mundo em desenvolvimento na agenda internacional”. Em 2024, o Brasil será o presidente do G20.
No Brasil, recursos do NDB financiam projetos de infraestrutura, programas de apoio à renda, mobilidade sustentável, adaptação à mudança climática, saneamento básico e energias renováveis, segundo Lula.
Financiamentos dos países
O presidente afirmou ainda que o NDB “representa muito” para quem tem consciência da necessidade de crescimento e de financiamento dos países. “Nenhum governante pode trabalhar com uma ‘faca na garganta’ porque está devendo. Os bancos precisam ter paciência de, se for preciso, renovar acordos e colocar a palavra ‘tolerância’ em cada renovação, porque não cabe a um banco ficar asfixiando as economias dos países, como está fazendo agora com a Argentina o Fundo Monetário Internacional. E como fizeram com o Brasil durante um tempo e com todos os países do primeiro mundo que precisaram de dinheiro”, disse Lula.
Segundo o presidente, o “sonho” de criar o NDB representa ter “um instrumento de desenvolvimento que fosse forte e, certamente será forte, que empreste dinheiro na perspectiva de ajudar os países, não de asfixiar”. “Porque senão nunca iremos ver os países em desenvolvimento, os mais pobres conseguindo se desenvolver”, afirmou.
Lula disse que todos os países deveriam ter o direito de se endividar, desde que o objetivo seja criar um novo ativo, algo que resulte em mais “futuro, capacidade de investimento, produção, exportação”. “É o mundo que temos que enxergar, não esse mundo de pessoas que parecem gênios e, quando quebra, como quebrou o Lehman Brothers em 2008, quem tem que arcar com as contas é o Estado. E agora com a quebra do Credit Suisse, que dava lição de sabedoria em todos os países do mundo e quem teve que salvar o banco foi o governo suíço.”
Lula disse também que o banco dos Brics deveria ter mais funções, como ter uma moeda para as relações comerciais entre os países. “Toda noite me pergunto por que todos os países são obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar, e não em nossa moeda? Por que não temos o compromisso de inovar?”, questionou.