Por Alexandre Inacio

Se por um lado a pandemia de Covid-19 foi a responsável por destruir algumas dezenas de empresas em todo o mundo, por outro, ela acelerou o nascimento de novos negócios e alavancou algumas atividades que caminham em um ritmo menos intenso. Um dos mercados que floresceram durante a pandemia foi o de aluguel de máquinas agrícolas. Em meio a uma tendência de reduzir o peso dos ativos no balanço das fazendas, alguns produtores avançaram na substituição de pelo menos uma parte de suas frotas por equipamentos alugados, muitos dos quais superiores aos existentes nas propriedades.

Outro fator que tem pesado na decisão do agricultor em considerar alugar máquinas ao invés de comprá-las foi a queda nas margens de lucro, especialmente no segmento de grãos. Com uma parcela do caixa comprometida, uma parte importante do setor produtivo trocou a estratégia de manter um custo fixo e substituí-lo pelo variável. Afinal, cada centavo tem sido importante no agronegócio nos últimos anos.

Concessionária criou projeto piloto para alugar equipamentos (Crédito:Divulgação )

Uma das empresas que nasceram em meio à pandemia foi a RZK Rental.
• Em 2021, a concessionária Primavera Máquinas, pertencente ao Grupo RZK, iniciou o projeto piloto de aluguel de máquinas.
• No primeiro ano de atividade, o projeto gerou uma receita de R$ 25 milhões, com a locação de 20 equipamentos. A ideia começou a ser descoberta por mais gente.
• Em janeiro do ano passado, o que era apenas um piloto se transformou em um negócio novo, com o nascimento da RZK Rental, que nos 12 primeiros meses de vida gerou uma receita de R$ 138 milhões, com a expectativa de alcançar R$ 300 milhões em 2024.

Outra empresa que ganhou espaço no segmento de aluguel de máquinas foi a Vamos. Parte da holding Simpar, a empresa atua no mercado de revenda de automóveis, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas, com as marcas Valtra e Fendt. Assim como a Primavera Máquinas, a Vamos já tinha os tratores e colheitadeiras usados disponíveis para venda e também tem apostado no aluguel das máquinas como nova fonte de receita.

Empresários têm trocado custo fixo por variável para preservar o caixa em tempos de margens mais apertadas no agronegócio

“O dinheiro investido no campo proporciona um retorno ao agricultor muito maior do que quando está investido em equipamentos. Se o produtor ainda acha que vale mais a pena investir na frota do que no negócio ele está precisando rever o seu negócio”, disse José Geraldo Santana Franco Júnior, diretor comercial da Vamos à DINHEIRO RURAL.

Para justificar seu argumento, o executivo faz contas. Segundo ele, a atividade agrícola rende, em média, 30% do valor investido nas lavouras, do plantio à colheita do produto final. “Se ele investir R$ 1 milhão no campo, o resultado é um. Agora, se ele investe o mesmo valor em uma máquina, ele perde de 8% a 10% todos os anos com a desvalorização do equipamento”, explica Júnior.

(Divulgação)
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No Brasil, os dados sobre o tamanho do mercado de aluguel de máquinas ainda são dispersos.
• Estimativas da consultoria Mordor Intelligence mostram que, globalmente, o mercado de aluguel de máquinas agrícolas movimenta cerca de US$ 50 bilhões.
 E as expectativas são otimistas.
 A previsão é que a substituição de frotas próprias por equipamentos alugados se acelere, fazendo com que o mercado cresça a uma taxa média de 7% ao ano até 2029.

“Se o agricultor acha que vale mais investir na frota do que no negócio ele precisa rever o modelo.”
Geraldo Júnior, diretor comercial da Vamos

Esse desempenho não é por acaso. O produtor também já consegue perceber vantagens no modelo. Estimativas das empresas apontam um corte de até 40% no custo na aquisição de insumos.
 Isso porque, o agricultor deixa de gastar com a manutenção dos equipamentos e a compra de combustível.
 Além disso, máquinas mais modernas e eficientes garantem resultados melhores no campo. Em alguns casos, os ganhos de produtividade se aproximam de 15%.

Ainda que o aluguel de máquinas agrícolas tenham crescido rapidamente no Brasil, o segmento ainda tem um peso relativamente pequeno na receita das fabricantes, em um ano que as vendas devem recuar entre 10% e 15%, segundo estimativas da própria Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Ainda assim, as empresas que locam os equipamentos e compram das montadoras acreditam que o setor de máquinas agrícolas deve seguir a mesma tendência observada no mercado automotivo, onde as locadoras são atualmente os principais clientes. “A Vamos já está entre os cinco maiores compradores de máquinas agrícolas do Brasil”, diz Júnior.

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Dentro do agronegócio, cada atividade se apresenta em um estágio diferente quando o assunto é locação de máquinas. O setor de florestas e cana-de-açúcar são os dois onde a estratégia está mais disseminada.

Com grandes indústrias por trás da produção no campo, os segmentos avançaram mais rapidamente na tendência “asset light”.

• Nos últimos anos, soja e milho têm ganhado espaço e é onde as locadoras enxergam as maiores oportunidades.
• Na fila, aparecem ainda o setor citrícola e café, que já começaram os primeiros testes.

Afinal, investir em um ativo que traz retorno se mostra uma estratégia mais inteligente do que aportar recursos em um que apenas se desvaloriza.

 

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