21/11/2024 - 7:00
RESUMO
● Mais do que ofertar crédito, as cooperativas se tornaram parceiras estratégicas dos produtores
● Elas auxiliam com consultoria, tecnologia e soluções inovadoras que ajudam a aumentar a produtividade e a competitividade do setor
● Em movimento contrário ao dos grandes bancos, que têm reduzido sua presença em áreas rurais, as cooperativas têm ampliado sua atuação no campo
● Iniciativas como alongamento de dívidas e a renegociação de crédito têm permitido que pequenos e médios agricultores mantenham suas operações em meio às adversidades, como secas e queimadas
O cooperativismo de crédito, alicerçado na ideia de colaboração mútua e assistência financeira comunitária, tem desempenhado um papel decisivo no financiamento da agricultura brasileira. Suas origens remetem a princípios democráticos, em que a união de esforços permite o desenvolvimento coletivo e o fortalecimento das economias locais. O símbolo desse movimento, um círculo envolvendo dois pinheiros que se projetam para o alto, representa o crescimento conjunto e contínuo dos cooperados, sempre em direção a patamares mais elevados.
Hoje, o impacto das cooperativas de crédito no agro está cada vez mais claro.
● De acordo com o anuário do cooperativismo de 2023, o Brasil fechou o último ano com 700 cooperativas de crédito, 18 milhões de cooperados e um total de R$ 809 bilhões em ativos.
● Em relação ao financiamento agrícola, 13% dessas cooperativas já utilizam serviços de cooperativas agropecuárias, consolidando sua importância no setor e o trabalho intersetorial.
O cooperativismo oferece aos agricultores, especialmente os pequenos e médios, uma alternativa viável e acessível para financiar suas atividades e investir em tecnologia e inovação.
A FORÇA DA AGRICULTURA FAMILIAR
A Cresol, uma das maiores cooperativas de crédito do Brasil, exemplifica essa trajetória de crescimento e apoio ao agro. Seu presidente, Cledir Assisio Magri, relembra que o DNA da Cresol sempre esteve atrelado ao campo, especialmente à agricultura familiar. Ao longo de 30 anos de atuação, expandiu suas operações, que antes se concentravam na região Sul, para 19 estados, abrangendo diferentes regiões agrícolas do Brasil.
Magri apontou que o crescimento da cooperativa reflete a evolução do próprio agronegócio brasileiro. Há uma década, o agricultor que acessava R$ 50 mil em crédito, hoje consegue financiar até R$ 500 mil. Essa expansão reflete o aumento da capacidade de atender desde pequenos produtores até grandes fazendeiros, oferecendo financiamento para insumos, máquinas e tecnologia agrícola. O foco principal da Cresol continua sendo a agricultura familiar, que representa 90% da sua carteira de crédito rural.
Outro ponto de destaque na atuação da Cresol é sua aposta na inovação tecnológica. Em parceria com a Finep (Agência pública de financiamento à inovação), a cooperativa tem financiado projetos voltados à sustentabilidade, como biofábricas e tecnologias verdes.
Além disso, a Cresol tem investido em soluções de armazenagem, um dos maiores desafios do setor agrícola. Magri ressaltou que há um descasamento entre a capacidade de produção agrícola e a infraestrutura de armazenamento, o que afeta a autonomia dos agricultores e limita seu poder de negociação.
Nesse sentido, o financiamento de novos silos e armazéns surge como uma necessidade urgente para garantir o crescimento sustentável do agronegócio. Ele também destacou a importância do crédito de longo prazo, com taxas de juros adequadas e carência mínima para o pagamento. Essa flexibilidade é fundamental para que os agricultores possam investir em tecnologia e inovação, enfrentando os desafios climáticos e econômicos que impactam diretamente suas produções.
“A vantagem sobre os bancos é que o cooperado é sócio. Ao fim do ano, a cooperativa distribui a renda, a sobra (lucro), que vai para conta corrente ou cota-capital do cooperado.”
Leonardo Ribeiro, superintendente do Sicoob
MAIOR REDE DO PAÍS
Enquanto a Cresol tem forte atuação no Sul, o Sicoob se destaca por sua abrangência nacional, sendo a maior rede de cooperativas de crédito do País, com 8,2 milhões de cooperados distribuídos pelos 27 estados. Em muitas cidades, especialmente em áreas rurais, o Sicoob é a única instituição financeira disponível, o que reforça sua importância na inclusão financeira e no desenvolvimento econômico local.
Leonardo Martins Ribeiro, superintendente de agronegócio do Sicoob, ressalta que a cooperativa tem uma carteira robusta de crédito rural, com R$ 67 bilhões destinados ao agro. Para a safra 2023-2024, o Sicoob estima ter liberado cerca de R$ 54 bilhões em crédito rural, com um crescimento de 23% em relação ao ano anterior. A cooperativa tem se destacado no atendimento a pequenos e médios produtores, especialmente no Sul e em Minas Gerais, regiões onde o agronegócio é predominante. A carteira de Pronaf, voltada à agricultura familiar, representa 15% do total de crédito rural da cooperativa.
Um dos diferenciais do Sicoob é o atendimento personalizado ao produtor rural. Segundo Ribeiro, os gerentes da cooperativa têm um conhecimento profundo do negócio agrícola e estão capacitados para oferecer consultoria financeira, auxiliando os produtores na escolha das melhores soluções de crédito para suas necessidades.
Além disso, o Sicoob distribui as sobras geradas pela cooperativa aos seus cooperados, o que torna a relação mais vantajosa em relação à dos bancos tradicionais. Esse modelo permite que os cooperados acumulem capital ao longo dos anos, fortalecendo sua posição econômica. O Sicoob também tem se engajado em iniciativas voltadas à sustentabilidade no campo. Por meio de programas de incentivo, como o Prêmio Produtor Rural Sustentável, a cooperativa reconhece as melhores práticas agrícolas que promovem o equilíbrio ambiental e social. Esse enfoque em práticas sustentáveis tem atraído um número crescente de produtores preocupados com o impacto ambiental de suas atividades, o que alinha o Sicoob com as demandas atuais do setor agrícola por uma produção mais responsável e inovadora.
EXPANSÃO PARA O CAMPO
O Sistema Ailos, sediado também no Sul do Brasil, onde se iniciou e onde a cultura do cooperativismo é mais enraizada, tem uma atuação diferenciada, concentrada mais para o crédito urbano, mas começando sua expansão para o rural. Com mais de 1,6 milhão de cooperados e um crescimento anual de 30%, o Sistema Ailos tem se consolidado como um dos principais fornecedores de empréstimos da região. De acordo com Adelino Sasse, diretor do Sistema Ailos, a cooperativa já oferece crédito para a compra de máquinas agrícolas e ordenhadeiras, mas o plano é lançar, até 2025, linhas de crédito específicas para o financiamento de safras e outros projetos agrícolas. O desafio, segundo Sasse, está na necessidade de criar uma infraestrutura especializada para atender o setor rural, incluindo a contratação de engenheiros agrônomos e consultores técnicos que possam oferecer suporte aos cooperados.
Atualmente, o Sistema Ailos se destaca como o maior repassador de microcrédito do BNDES no Brasil. Embora esse crédito seja voltado principalmente para pequenos empreendedores urbanos, muitos agricultores familiares já se beneficiam dessas linhas de financiamento, que oferecem taxas de juros acessíveis e prazos adequados para o pagamento.
Além disso, o Ailos tem investido fortemente em educação financeira, ajudando seus cooperados a gerir melhor seus negócios e a tomar decisões financeiras mais informadas. A entrada do Ailos no agronegócio representa uma nova fronteira para a cooperativa, que busca diversificar suas operações e atender a uma demanda cada vez maior.
Sasse acredita que, ao replicar o modelo de atendimento personalizado e as soluções financeiras desenvolvidas para o crédito urbano, as cooperativas do Sistema Ailos poderão se consolidar como mais uma alternativa viável para pequenos e médios produtores rurais.
“Não é só emprestar dinheiro, é ensinar pessoas a lidar com ele. Por isso há muito investimento em educação financeira.”
Adelino Sasse, diretor do sistema Ailos
CONEXÃO
O papel das cooperativas de crédito no agronegócio vai além da simples oferta de crédito. Essas instituições se tornaram parceiras estratégicas dos produtores, oferecendo financiamento, consultoria, tecnologia e soluções inovadoras que ajudam a aumentar a produtividade e a competitividade do setor.
Em movimento contrário ao dos grandes bancos, que têm reduzido sua presença em áreas rurais, as cooperativas têm ampliado sua atuação, abrindo novas agências físicas e oferecendo atendimento personalizado em cidades menores e comunidades agrícolas. Elas também têm sido importantes para ajudar os produtores a enfrentar as crises climáticas e econômicas que afetam o agro.
Iniciativas como o alongamento de dívidas e a renegociação de crédito têm permitido que pequenos e médios agricultores mantenham suas operações em meio às adversidades, como secas e queimadas. Além disso, o foco em inovação e sustentabilidade, por meio de parcerias com instituições como a Finep e o BNDES, tem permitido que as cooperativas financiem projetos que promovem o uso de tecnologias mais limpas e eficientes no campo.
Com R$ 137 bilhões em ingressos e 112 mil empregos gerados em 2023, o cooperativismo de crédito se consolidou como uma alternativa sólida para o financiamento da agricultura no Brasil. Seu crescimento contínuo, aliado à capacidade de oferecer soluções financeiras customizadas, faz das cooperativas um elo estratégico entre o campo e o desenvolvimento econômico. O futuro do agronegócio brasileiro estará cada vez mais conectado ao cooperativismo financeiro. Os agentes do setor continuarão desempenhando um papel central na transformação dos negócios, com oferta de crédito acessível, tecnologia de ponta e gestão financeira responsável.