“Não concordo com preceitos baseados em ideologias, acredito em ciência”

Reeleito em 2013 presidente da International Feed Industry Federation (IFIF), entidade global que representa mais de 80% da produção de alimentos no mundo, o brasileiro Mário Sérgio Cutait participou do Global Agribusiness Fórum 2014.

 

Qual é a sua opinião sobre o uso de anabolizantes em bovinos para ganho de peso?

É necessário usar toda a tecnologia disponível para atingir ganhos de produtividade. O mundo precisa de mais alimentos, a um custo menor. Não concordo com preceitos baseados em ideologias, acredito em ciência. A Europa proíbe o uso e a compra de alimentos com melhoradores de performance, mas o europeu quando viaja se farta de comer carne. Isso é uma grande hipocrisia.

Como o Brasil deve lidar com as restrições a respeito dos melhoradores de performance?

O Brasil precisa mostrar aos compradores internacionais que possui rastreabilidade e segregação da produção, para evitar desconfianças sobre a segurança alimentar no País.

 

Então o País não deveria receber mais pelo produto?

Sim, mas quem está ganhando são os revendedores, que colocam nosso produto pelo triplo na prateleira.

 

O pecuarista brasileiro conseguiria aumentar a produtividade somente com a ração?

Sim, haja vista a impressionante tecnologia embarcada na indústria de ração. No entanto, percebemos que os criadores têm receio de investir sem ter a certeza de que irão receber o valor justo pela alta produção. Para mim, o Brasil não precisa de 200 milhões de cabeças de boi, precisa somente da metade disso, produ- zindo o dobro de carne.

Mas como reduzir custos e ainda assim dobrar a produtividade?

Através da integração lavoura-pecuária. Um criador de bovino não pode produzir carne apenas. Ele precisa ter uma área agrícola onde produza alimento para consumo próprio e para os animais. Isso reduz seus custos e aumenta os lucros.

Hoje, o mundo produz um bilhão de toneladas de ração. Com o aumento da demanda por alimentos, quanto terá de ser produzido no futuro?

Segundo os números da FAO, a produção de proteína animal vai crescer 60% até 2050. A produção de ração, no mínimo, deve crescer o mesmo.

 

Além de um importante fornece- dor de alimentos, o Brasil pode se tornar exportador de rações?

Acho que não. O Brasil não tem esse potencial pela falta de infraestrutura logística. Além disso, ainda precisaria ajustar as questões tributárias.

O Brasil deveria seguir o exemplo dos chineses?

Sim, porque o chinês é muito obje- tivo, ele gosta de dominar a produção de tudo o que faz. Tanto que, nos últimos dez anos, vieram ao Brasil tentando fechar acordos para produzir soja aqui, para depois exportar para a China.

O sr. é a favor da internacionalização das empresas brasileiras?

Sim. O País precisa de mais empresas globais, como é o caso dos três frigoríficos brasileiros que atuam no Exterior. Até por-que depender das atividades em um só país é algo muito arriscado hoje em dia.

Qual é a sua opinião sobre o uso de milho na produção de etanol?

Acho que isso precisa ser discuti- do. A FAO diz que o mundo precisará de 60% a mais de proteína animal. Sendo assim, também seriam necessários 60% a mais de ração e o mesmo percentual de milho. Se o etanol também demandar milho, teremos de refazer as contas, pois a alimentação humana e a dos animais são prioridades.