Com R$ 120 milhões no bolso e 25 mil cabeças de gado no pasto,

Maria Stella Damha, herdeira do Grupo Encalso, quer triplicar os negócios rurais de sua família

Lucros gordos: confinados, animais ganham até 1,5 quilo ao dia e são abatidos aos 14 meses

Ela não usa chapéu de caubói nem botina. Formada em economia e com mestrado na Itália, Maria Stella Damha está longe de ser uma fazendeira convencional. Herdeira do Grupo Encalso, gigante do ramo da construção civil e infraestrutura, trabalhou por anos em companhias multinacionais e corretoras de valores antes de assumir o comando dos negócios rurais da família, em 2002.

Hoje está à frente de sete fazendas – que totalizam 55 mil hectares – e é a principal responsável por um audacioso projeto agropecuário que prevê o investimento de R$ 120 milhões nos próximos três anos. Para isso, deixou o rótulo de pecuarista de lado para se transformar em uma verdadeira executiva do agronegócio, com pretensões de multiplicar por três seus negócios rurais.

Maria stella: “É preciso que a operação dê lucro para justificar novos investimentos”

Desde a sua chegada, tudo é feito visando aproveitar ao máximo as áreas e aumentar a produtividade.

A filosofia na Damha Agronegócios agora é ‘3 para 1’, ou seja, o espaço que era utilizado para uma única atividade, agora serve para três.

Desta forma, o rebanho bovino, que antes era criado a pasto, foi confinado, abrindo espaço para as lavouras irrigadas de soja, milho, cana-de açúcar e feijão, que não existiam, mas hoje já respondem por quase metade do faturamento da empresa. Porém, otimizar as operações não foi nada fácil.

A primeira e mais complicada missão de Maria Stella foi profissionalizar as fazendas e fazer com que elas trabalhassem como uma multinacional, com direito a reuniões de diretoria, planejamento estratégico, gestão financeira rígida e, obviamente, obrigação com os resultados.

Depois, com a casa em ordem, passou a estudar a fundo novas atividades agrícolas que pudessem agregar mais valor às terras e consequentemente trazer uma rentabilidade maior para a empresa.

A pecuária, tida como principal atividade do grupo, vem perdendo espaço para a agricultura. Graças à irrigação, a produtividade da soja e do miho está acima da média nacional

Roberto santos, o gerente: “Ao contrário do que muitos dizem, o confinamento é sim um bom negócio, mas precisa ser muito benfeito”

“É preciso que a operação dê lucro para justificar novos investimentos. Não quero ser vista como a filha do dono. Para isso é preciso administrar tudo da melhor forma e mostrar os resulta dos aos acionistas, que no caso são meus irmãos”, explica a empresária, que mora em São Paulo, mas visita com frequência todas as propriedades do grupo, espalhadas pelo interior de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. A cada visita são feitas reuniões com gerentes para verificar pessoalmente o andamento da produção.

E coisa para ver é o que não falta. Apenas a divisão pecuária, principal atividade do grupo, conta com cerca de 60 mil cabeças, sendo 25 mil delas confinadas. Só na fazenda Bonança, na cidade de Pereira Barreto, extremo oeste de São Paulo, são 13 mil animais provenientes de cruzamentos industriais confinados e abatidos aos 14 meses como “novilhos superprecoces”. O giro é constante. Assim que um lote é vendido, outro precisa ser comprado imediatamente para repor o plantel. É neste momento que o lado economista de Maria Stella entra em ação.

Junto com sua equipe de especialistas, fica o tempo todo ligada no mercado financeiro e nas cotações, especialmente as do boi gordo, na bolsa. Quando percebe um bom momento para a venda futura, executa o negócio sem hesitar. Nas fazendas o trabalho continua com seus gerentes, que rodam o Brasil todo em busca de lotes com potencial para integrar o plantel. Confinados, os melhores animais ganham até 1,5 quilo ao dia e saem de lá certificados para exportação para a Europa. Parece simples, mas o processo exige muito controle.

60% dos grãos colhidos são utilizados pela própria Damha para a fabricação de rações. A indústria fica na fazenda e tem capacidade para produzir até 120 toneladas/dia

“Ao contrário do que muitos dizem, o confinamento é sim um bom negócio, mas quando benfeito. Sofremos muito no início devido à falta de experiência, mas hoje dominamos o processo. É preciso estar sempre de olho nos custos para não acabar tendo prejuízo”, lembra Roberto Santos, gerente da fazenda Bonança. Porém, mesmo com uma operação positiva, com índices de rentabilidade acima da média do setor, a pecuária vem perdendo cada vez mais espaço para a agricultura.

Hoje, 50% das terras da Damha Agronegócios já estão ocupadas com lavouras de soja, milho, canade- açúcar, feijão e tomate. Segundo a executiva, além de aumentar os lucros, esta é mais uma forma de proteger seu negócio e ainda aproveitar melhor as terras. “É como uma carteira de ações. Você diversifica e, quando uma coisa vai mal, tem outra que vai bem para equilibrar”, diz Maria Stella.

A produtividade impressiona. Graças aos altos investimentos feitos em estrutura, com mais de 30 pivôs de irrigação – que cobrem praticamente metade das plantações -, a Damha consegue colher em média 65 sacas de soja e 130 sacas de milho por hectare, bem acima da média nacional, por causa das irrigações de salvamento. No total, são produzidas mais de 400 mil sacas de grãos ao ano, 60% deste montante utilizado pela própria empresa em sua fábrica de rações, que trabalha de forma independente e tem capacidade de produção de até 120 toneladas/dia.

“Existe uma sinergia entre as divisões pecuária, de agricultura e de rações da Damha. Todas as empresas trabalham de forma integrada, mas como empresas independentes. A fábrica de ração, por exemplo, vende tudo a preço de mercado para o confinamento”, completa a executiva. “Só assim será possível continuar crescendo e multiplicar o que já construímos”, diz.