01/10/2010 - 0:00
O fracasso da primeira tentativa não fez o governo desistir: a mamona continua tendo a preferência para liderar a produção de biodiesel no Nordeste. A planta, que há cinco anos era citada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como a salvação para a fome na região e até na África, não conseguiu cumprir a promessa presidencial de tirar milhões de famílias da miséria. Pelo discurso original, cada família com um pedacinho de terra teria sua sobrevivência assegurada ao vender as sementes que colheria no quintal para as usinas de biodiesel. Não foi bem assim. Na prática, a empresa criada para administrar o projeto, a Brasil Ecodiesel, enfrentou sérias dificuldades financeiras. O governo percebeu que a realidade não acompanhou a propaganda: apesar de resistente à seca, a mamona não podia ser plantada em qualquer lugar e precisava de um esforço organizado e de mais tempo para vingar. Três anos depois, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) fez uma arrumação no projeto e adequou as expectativas, incluindo outras oleaginosas na cadeia de produção do biodiesel. “Achamos que seria mais fácil, que o setor privado daria conta”, admitiu à DINHEIRO RURAL o coordenador do programa de biodiesel do MDA , Arnoldo Campos. “Mas percebemos que não estamos numa corrida de 100 metros, mas numa maratona”, afirmou.
Entusiasta o Presidente Lula tem sido o grande incentivador do plantio de mamona, em função do impacto social da lavoura no nordeste
Nesta nova fase, o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) é comandando pela Petrobras Biocombustível, que planeja investir R$ 3,5 bilhões em pesquisas até 2014 e aumentar sua capacidade de produção em 47%. Quando lançou o programa, em 2005, o MDA imaginava que a Brasil Ecodiesel, uma empresa criada dois anos antes pelo empresário Daniel Birmann, daria conta de organizar a produção, incentivando o plantio em escala familiar e comprando a produção das famílias. Foi um fracasso. Parte das 610 famílias envolvidas no projeto Santa Clara, no Piauí, chegou a passar fome e a empresa só se recuperou do prejuízo de R$ 300 milhões no ano passado. “A empresa foi precursora e, por isso, arcou com os ônus”, disse à DINHEIRO RURAL o presidente da Brasil Ecodiesel, Mauro Cerchiari, que assumiu a companhia em 2009 para recuperá-la. Segundo Cerchiari, a Ecodiesel não conseguiu fazer frente às empresas que continuaram usando como matéria-prima do biodiesel a soja.Hoje, cerca de 80% do biodiesel vem da soja. Mas, agora, o verdadeiro desafio é tornar o biodiesel de mamona, girassol, dendê, pinhão manso ou canola viável economicamente.
Desde janeiro deste ano, é obrigatória a adição de 5% de biodiesel ao diesel nacional. O consumo anual do diesel no Brasil está em torno de 44 bilhões de litros desde 2008, o que garante um mercado de 2,2 bilhões de litros para o biodiesel. O semiárido brasileiro conta com quatro milhões de hectares aptos ao cultivo da mamona. São cerca de 700 municípios potenciais produtores que, se integrados a um processo de produção organizada, podem gerar um milhão de empregos, nas contas da Embrapa Algodão. Isso ajudaria a complementar a renda do pequeno agricultor e a reduzir a dependência das variações do preço da soja no mercado internacional. Longe da alcunha de “petróleo verde”, a mamona poderá, enfim, vingar.