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AS PROMESSAS: Geraldo Alckmin, de São Paulo (à direita) e Sinval Barbosa, de Mato Grosso (abaixo): investimentos em pavimentação e em vicinais, um dos gargalos para escoar a produção

As eleições de 2010 enredaram o brasileiro num questionável debate sobre o aborto, no qual a religião monopolizou o discurso dos candidatos a presidente, em detrimento de temas ligados à agenda econômica do País. Sobre os problemas do campo, pouco – ou nada – se falou na disputa nacional. Por outro lado, governadores de Estados com peso na agricultura selaram a vitória no primeiro turno munidos de propostas para o setor rural. Agora, o discurso começa a ser levado à prática com as equipes de transição debruçadas sobre as estratégias para os próximos quatro anos. Algumas ações, propostas e metas já foram desenhadas e devem ser implementadas a partir de 1º de janeiro. Deve-se esperar dos novos governadores medidas para reduzir os gargalos no escoamento da produção, com investimentos em portos e estradas, reforço nos órgãos sanitários e incentivos para atrair indústrias que consolidem as cadeias produtivas de culturas com grande participação no PIB agrícola local. As promessas estão sendo colocadas no papel e devem ser cobradas no futuro.

A redução das deficiências logísticas figura nos oito planos de governo consultados por DINHEIRO RURAL, dos principais governadores eleitos no primeiro turno. Em sua maioria, preveem investimentos mais robustos na malha rodoviária estadual, concentrados na pavimentação das estradas vicinais. A medida pretende reduzir tempo e custo no transporte da produção de áreas remotas com novas ligações às grandes rodovias.

 

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Em São Paulo, por exemplo, o tucano Geraldo Alckmin volta ao governo do Estado contabilizando alto desempenho onde o agronegócio prospera. Venceu nas regiões sucroalcooleira, em todo polo da citricultura, em Araçatuba – a “terra do boi gordo” –, em Presidente Prudente, polo da pecuária intensiva, além do sudoeste paulista e Vale do Paranapanema, onde se concentra a produção de grãos com alta tecnologia. “É prioridade absoluta apoiar a agricultura”, propagou durante a campanha nos palanques erguidos em feiras do agronegócio. Entre suas prioridades lista a “redução da carga tributária da agricultura à exemplo do que fiz com a indústria alimentícia no governo anterior”, e promete melhorar a renda do produtor rural, além de promover assistência técnica para pequenos e médios produtores.

Em Mato Grosso, maior produtor do País, foram asfaltados 4,6 mil quilômetros de estradas nos últimos oito anos. A meta do governador reeleito Silval Barbosa é pavimentar outros 2,2 mil quilômetros até 2014, um investimento de R$ 1,1 bilhão. “Temos 44 cidades que não têm acesso a uma rodovia pavimentada”, disse à RURAL. Santa Catarina tem gargalos semelhantes, mas tem de enfrentar o desafio de buscar recursos do governo federal, responsável pelos três principais corredores de escoamento da produção e para os acessos dos portos de São Francisco e de Itajaí, onde se formam filas quilométricas de caminhões a cada safra. “É um caos. São pontos que afetam a competitividade do nosso agronegócio”, relata Murilo Flores, coordenador do programa do governador eleito, Raimundo Colombo.

Desafogar o escoamento da produção rural é um compromisso assumido também pelo governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Seu programa prevê asfaltar 108 estradas vicinais do Estado. O foco principal, no entanto, é atrair agroindústrias para o campo gaúcho e agregar valor às cadeias do leite e da carne. O caminho, relata, passa pela criação de linhas de crédito para estimular novos empreendimentos no estado e a divulgação da produção no Brasil e no Exterior. “Vamos qualificar nosso rebanho, criar crédito para exportar e fazer propaganda em mercados estrangeiros”, disse Genro à DINHEIRO RURAL. Reeleito na Bahia, Jaques Wagner pretende seguir o mesmo caminho. A agricultura local é campeã no cultivo de guaraná e a segunda na lavoura de algodão, mas não há indústria que absorva a produção.

Por outro lado, a produção de laranja, de cebola e de milho começa a ser beneficiada em solo baiano. “Inauguramos duas indústrias que vão consumir 35% da produção de milho. Não seremos mais meros produtores de matéria-prima”, garante Eduardo Salles, secretário estadual de agricultura e coordenador do programa de governo para o setor rural.

 

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Projetos: o paranaense Beto Richa (à esquerda) quer liberar os transgênicos e Tarso Genro (alto) atrair a agroindústria para o RS. Ao lado, os secretários de Agricultura Eduardo Salles (BA) e Gilman Viana Rodrigues (MG)

A pecuária é outro tema recorrente nas propostas de governo, com destaque para a busca pela certificação dos rebanhos livres de febre aftosa sem vacinação. Hoje, Santa Catarina é o único Estado com esse status. Uma das áreas mais afetadas pelo surto de 2005, o Paraná agora quer vacinar 9,5 milhões de cabeças de gado pela última vez, em novembro, e buscar a certificação até meados de 2011. Para a tarefa, o governador eleito, Beto Richa, promete criar a agência estadual de defesa sanitária, com reforço no controle das fronteiras. A maior mudança, porém, talvez seja a permissão para plantio de sementes transgênicas, proibido desde 2003 por uma lei estadual apesar de ser autorizado no restante do País. “O Paraná não pode ser uma ilha isolada nas mudanças que acontecem em todo mundo”, disse Richa à DINHEIRO RURAL. Há 15 anos sem casos de febre aftosa, Minas Gerais também quer buscar o status de área livre sem vacinação, mas encontra dificuldades no controle das divisas, já que faz fronteira com sete Estados.

Para Gilman Viana Rodrigues, secretário de agricultura de Minas Gerais e coordenador do programa do governador Antonio Anastasia, os investimentos no setor rural só serão aproveitados em todo seu potencial se o agricultor tiver capacidade técnica para dominar as novas tecnologias. Um dos eixos principais é investir no ensino técnico para cerca de 200 mil famílias agricultoras, com ampliação da rede de ensino e das Ematers. “Sem educação, não se aproveita toda a tecnologia disponível no mercado”, avalia. Em Mato Grosso do Sul, onde há mais de 560 assentamentos rurais, a construção de uma rede de ensino técnico para a população rural é tida como arma para qualificar a produção agrícola do Estado. “Queremos atrair mais agroindústrias, que vão precisar de uma mão de obra qualificada”, diz Tereza da Costa Dias, secretária de desenvolvimento agrário do Estado.

 

Bahia

governador:

Jaques Wagner

Mato Grosso

governador:

Silval Barbosa

Mato Grosso do

Sul

governador:

André Puccinelli

Minas Gerais

governador:

Antonio Anastasia

Propostas

Propostas

Propostas

Propostas

Consolidação das 20 câmaras setoriais da agropecuária

Pavimentar 2,1 mil km de estradas vicinais

Ampliar incentivos para agroindústrias que agreguem valor à produção

Ampliação da malha de estradas vicinais

Autossuficiência na produção de leite e borracha

Regularizar 85 mil propriedades de reforma agrária

Construção de rede de ensino técnico para assentamentos rurais

Criação do fundo estadual do café

Industrialização das cadeias de soja, algodão, banana e cebola

Manutenção de incentivos fiscais para a agroindústria

Pavimentação da malha rodoviária vicinal

Ferrovia entre Unaí e Pirapora

Atrair investimentos internacionais para o agronegócio

Conclusão das rotas de escoamento até o porto de Itaqui (MA)

Remover status de risco para febre aftosa

 

Paraná

governador:

Beto Richa

Rio Grande do Sul

governador: Tarso Genro

Santa Catarina governador:

Raimundo Colombo

São Paulo

governador:

Geraldo Alckmin

Plano logístico e melhoras no Porto de Paranaguá

Pavimentar 108 estradas vicinais

Recuperação de estradas para escoamento da produção

Plano de expansão e recuperação das estradas vicinais para escoamento da produção

Criação da agência de defesa sanitária

Abrir linhas de crédito para agroindústria

Ampliar captação de água contra estiagens

Redução da carga tributária da agricultura

Status de área livre de aftosa sem vacinação

Criar marca gaúcha para produtos da agricultura familiar

Manter status de área livre de aftosa sem vacinação

Melhoria de renda do produtor rural

Liberação do plantio de transgênicos

Qualificar rebanho para ampliar mercado de carne

Ampliação do crédito fundiário

Seguro rural mais eficiente