A Eletrobras lamentou o falecimento de seu ex-presidente Luiz Pinguelli Rosa, que liderou a companhia de janeiro de 2003 a maio de 2004. O engenheiro nuclear e físico morreu na madrugada desta quinta-feira, aos 80 anos, após ficar mais de um mês internado com covid-19 no Hospital São Lucas, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro.

De acordo com a Eletrobras, a gestão de Pinguelli foi marcada pela promulgação das leis que redefiniram o modelo institucional do setor elétrico, em março de 2004, reafirmando as funções da empresa como holding das concessionárias federais. Também neste período, a Eletrobras assumiu a gestão técnica e financeira do Programa Luz para Todos.

Físico e mestre em engenharia nuclear, Pinguelli foi professor e diretor da Coppe/UFRJ, sendo considerado um dos maiores especialistas em energia no país. A Eletrobras registra sua homenagem a Luiz Pinguelli Rosa, agradecendo pelas suas contribuições à companhia e ao setor elétrico brasileiro.

Ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética e professor titular da Coppe/UFRJ, Maurício Tolmasquim também lamentou a morte do acadêmico: “Pinguelli foi meu professor na pós-graduação e, posteriormente, colega e amigo. Tive a oportunidade de escrever livros e artigos científicos com ele, além de termos viajado juntos para o exterior para participar de inúmeras conferências sobre energia e sobre mudanças climáticas, o que nos aproximou ainda mais”, disse em nota ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Tolmasquim destacou que Pinguelli tinha uma capacidade de liderança nata, que demonstrou nos quatro mandatos à frente do Instituto de Pós-graduação em Engenharia da UFRJ (Coppe), tendo sido um dos principais responsáveis pela sua transformação em um dos maiores centros de ensino e pesquisa em Engenharia da América Latina.

“Foi presidente da Eletrobras. Além disso, foi presidente do Fórum Brasileiro do Clima e teve atuação relevante na luta contra as mudanças climáticas, tendo feito jus, em conjunto com os demais cientistas do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), ao prêmio Nobel da Paz. É uma grande perda para o País”, afirmou.

O professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, também lamentou a morte de Pinguelli, que para ele teve um papel importante para tornar a Coppe/UFRJ um centro de pesquisa de nível mundial. “Ele teve uma atuação não só acadêmica, mas contribuiu muito para a política e planejamento do setor elétrico brasileiro. As análises consistentes que fez sobre o apagão de 2001 ajudaram muito a estruturar o atual modelo do setor, mesmo ele divergindo muitas vezes do que foi implementado. Mas acima de tudo foi um exemplo de professor, pesquisador e acadêmico, contribuiu muito para a formação de uma geração. Deixa uma lacuna que dificilmente será preenchida.”, declarou ao Broadcast.

Com formação em engenharia nuclear, Pinguelli sempre esteve próximo ao segmento e participou do projeto da primeira usina nuclear brasileira, Angra 1, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, quando ainda era do Programa de Engenharia Nuclear da Coppe e Angra I ainda estava ligada a Furnas, na década de 1970.

Para o atual presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães, a partida do físico “deixará um grande vazio no coração de todos que tiveram a honra e o prazer de conhecê-lo”.

Pelo Twitter, várias manifestações lamentaram a perda de Pinguelli, como a ex-presidente da República Dilma Rousseff. “Pinguelli foi um homem à frente do seu tempo, um visionário defensor da ciência e do País. Ele foi um nacionalista que colocou o Brasil e os interesses do povo no centro de todo o seu trabalho intelectual e científico. O Brasil perdeu um dos seus mais renomados cientistas e especialistas em energia. É um dia triste para todos os brasileiros”, afirmou.

O senador do PT-RN, Jean-Paul Prates, também registrou sua tristeza com a perda e relembrou uma passagem com o professor na França, em 1990, em uma conferência mundial de economistas de energia onde Pinguelli foi aplaudido de pé. “Depois, participei com ele do primeiro MBA em Petróleo e Gás do Brasil. Das primeiras turmas de alunos saíram muitos dos que dirigem o setor hoje. Luiz Pinguelli fará muita falta”, disse Prates.

A coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, Tatiana Roque, destacou a luta de Pinguelli pelo combate às mudanças climáticas em uma época em que não se falava disso no Brasil. “Minha carreira acadêmica na área de história e filosofia da ciência se deve à visão que ele tinha, apoiando essa área quando era ainda incipiente no Brasil. Devo boa parte da minha trajetória acadêmica ao apoio de Pinguelli. Vai fazer muita falta, sobretudo neste momento em que o Brasil precisa exatamente desse tipo de compromisso para sua reconstrução”, declarou pelo Twitter.

De acordo com o deputado do Psol-RJ Chico Alencar, Pinguelli unia o notável saber científico com aguda sensibilidade social. “Era um físico humanista, socialista, que colocou cabeça e coração a serviço da coletividade, de um Brasil justo e igualitário”, afirmou pelo Twitter.