01/08/2008 - 0:00
Após uma bem-sucedida passagem pela Suzano Holding, o economista João Pinheiro Nogueira Batista terá um novo desafio: ganhar o mundo das carnes. Ele é o novo CEO do frigorífico Bertin, que fatura R$ 6,4 bilhões ao ano. Com uma empresa bem capitalizada, ele garante que a onda de aquisições vai continuar. A intenção é comprar marcas para fazer a empresa crescer. O maior desafio, porém, será comandar a abertura de capital, segundo ele, sua principal missão. Em entrevista exclusiva à DINHEIRO RURAL conta como pretende fazer isso acontecer.
DINHEIRO RURAL – Como o sr. está encarando a responsabilidade de estar à frente da Bertin S/A ?
João Pinheiro Nogueira Batista – É um desafio profissional importante e que eu estava procurando. Tenho grande orgulho de ter a confiança dos acionistas e gerenciar uma empresa desse porte, tão importante no segmento em que atua. No fundo, a grande missão é liderar pessoas, que são as responsáveis pela geração operacional da companhia, alinhada aos objetivos dos acionistas.
DINHEIRO RURAL – Um dos aspectos anunciados com a sua contratação é a implantação de um novo modelo de gestão. Na prática, o que muda no grupo?
JB – Basicamente, os acionistas já tinham o desejo de sair do dia-a-dia do negócio e adotar uma posição mais estratégica no acompanhamento das operações, o que é típico do modelo de boa governança, em que os controladores passam para o conselho e com isso supervisionam as atividades da companhia, introduzindo uma gestão profissional. Além disso, estamos trazendo um novo sócio, que é o BNDES/Par, que tem um papel importante na dinâmica desse processo, com uma postura ativa em ajudar as empresas a crescer e consolidar suas práticas de governança.
DINHEIRO RURAL – E como fica o papel dos controladores?
JB – É um processo em que a família irá continuar ditando os rumos da empresa, até porque sua participação é fundamental para os investidores. Eles construíram o negócio, os valores deles estão impregnados na empresa e a permanência deles no controle do ponto de vista estratégico é fundamental para ajudar o crescimento no futuro. Meu papel e o da diretoria é fazer a ponte entre empresa e conselho e implementar e executar as definições estratégicas que o conselho definir.
DINHEIRO RURAL – É possível falar em metas?
JB – Metas operacionais e de resultado propriamente ditas nós ainda vamos estabelecer dentro do novo modelo de gestão que os acionistas querem que eu implante. A companhia já vinha em um processo de avanço em governança iniciando um processo de planejamento estratégico. Mas o desafio imediato é aprofundar esse processo até o final do ano, com um planejamento plurianual e metas a serem apresentadas ao conselho. A partir daí serão definidos os avanços futuros da companhia, tanto organicamente quanto eventuais movimentos estratégicos.
DINHEIRO RURAL – Então, o modelo de gestão ainda não está concluído?
JB – No curto prazo, o desafio é terminar esse processo de remodelagem do processo de governança, com a formatação do novo modelo, inclusive com a entrada do BNDES/Par e a minha chegada, além da montagem do conselho de administração e, claro, da preparação da companhia para a oferta publica, o IPO, que deverá ocorrer assim que tivermos um cenário de mercado mais favorável. O objetivo é fazer com que a Bertin S/A, quando chegar esse momento, esteja efetivamente preparada e consolidada para se tornar uma opção efetiva nos mercado de capitais e investidores, que estarão muito mais seletivos na escolha de seus investimentos, em função até dos problemas ocorridos no passado recente no mercado.
DINHEIRO RURAL – Pode-se dizer que a abertura de capital seja a grande meta da empresa para os próximos anos?
JB – O IPO é uma grande meta. Ele é importante para permitir a realização de um plano estratégico, que será afunilado até o final do ano. Você tem de construir um planejamento, crescer com metas agressivas como é a tradição do grupo e precisa associar isso a um processo sustentável de capacidade financeira. A parceria com o mercado de capitais é fundamental nesse processo, tanto para o grupo quanto para os acionistas.
DINHEIRO RURAL – Por que, então, até agora o IPO não saiu?
JB – Queremos estar bem preparados, não há uma necessidade imediata. Vamos aproveitar, inclusive, o fato de o mercado estar relativamente fechado em função dos problemas internacionais e fazer com que a gente possa preparar essa operação de modo a ser uma boa opção de investimento para quem procura papéis de uma empresa como a Bertin, que atua em um segmento em que o Brasil tem vantagens competitivas claras e no qual nós temos um papel importante, com eficiência operacional reconhecida e que pode vir a se constituir em uma opção real de investimento.
DINHEIRO RURAL – Mas vocês têm conversado com o mercado…
JB – Por causa dos problemas no mercado financeiro americano, os investidores estão assustados, muito seletivos, à espera de um real dimensionamento do problema do mercado hipotecário americano e do efeito que isso terá no sistema financeiro de uma forma geral. Hoje não há mercado, não adianta pensar em fazer oferta de ações. Mas o mercado de capitais veio para ficar no Brasil. Estamos vendo um enorme volume de operações nos últimos anos, com um mercado amplamente favorável. Então é normal nesses processos que se tenha um momento de euforia e de depressão. Depois o mercado tende a se normalizar, mas como conseqüência se torna mais seletivo, o que é bom para os investidores e para as empresas que tenham algo a oferecer, como é o caso da Bertin S/A.
DINHEIRO RURAL – A empresa errou ao não ter aberto seu capital no passado?
JB – Não vejo dessa forma. A empresa adotou uma outra rota de operação, como trazer o BNDES/Par como sócio e isso, do ponto de vista da necessidade imediata de recursos para movimentos que ela já fez, atendeu bem. Tanto que a empresa fez operações importantes, como a aquisição do controle da Vigor e outros movimentos no passado recente. Esses já estão equacionados, agora temos que olhar o IPO como algo importante para o futuro.
DINHEIRO RURAL – Haverá uma corrida por aquisição de marcas?
JB – A Bertin tem claramente uma reconhecida eficiência operacional. Mantém as plantas mais novas, com melhor escala, com postura ambiental e social importante. Essa eficiência operacional é reconhecida pelo mercado e pelos clientes, e está impregnada na tradição da empresa. Isso é uma vantagem competitiva clara e estamos trabalhando para integrar outros aspectos para agregar valor aos processos. Um exemplo é a compra da Vigor, que irá aumentar o leque dos produtos que estaremos oferecendo para clientela, no mercado interno e externo. A estratégia é trabalhar com produtos com cada vez mais valor agregado.
DINHEIRO RURAL – A gestão da Vigor será unificada com o resto do grupo?
JB – Nós ainda estamos examinando essa questão. Por enquanto, já colocamos um executivo, o Fernando Falcon, que está cuidando da administração da Vigor. Por enquanto, são duas entidades jurídicas separadas e estamos preparando suas operações da melhor forma possível. O seu modelo de gestão faz parte das definições estratégicas que nós devemos tomar no curto prazo.
DINHEIRO RURAL – Existem planos de aumentar a presença internacional da companhia?
JB – Nós já temos frigoríficos no Uruguai e Paraguai e fomos pioneiros com a instalação de um curtume na China, um mercado muito promissor. A internacionalização é um vertente importante do processo de crescimento futuro, ainda mais em um setor que, do ponto de vista da cadeia, temos uma vantagem competitiva importante. Internacionalização também é comercialização e a Bertin já está há muitos anos exportando, vendendo para mais de 80 paises, tendo a atividade comercial, canais de distribuição e clientela já consolidadas no Exterior.
DINHEIRO RURAL – E quanto às operações industriais?
JB – Do ponto de vista de novas operações industriais, seremos muito seletivos em função de onde é que isso vai agregar mais valor, seja do ponto de vista de produção, seja do ponto de vista de comercialização. Não adianta comprar operações industriais em mercados já maduros ou que não tenham a mesma eficiência operacional. Então temos que procurar mercados onde se tenha clara capacidade de crescimento do ponto de vista de produção e onde há possibilidade de aumentar a comercialização de produtos com valor agregado. O mercado americano, por exemplo, é muito mais importante do ponto de vista de comercialização do que para produção. É preciso olhar a questão da internacionalização com cuidado.
DINHEIRO RURAL – Então, a empresa está preocupada em como ganhar dinheiro com a logística também?
JB – Isso é mais uma questão de maximizar essa rede de distribuição que já temos no Exterior e eventualmente colocar produtos com mais valor agregado nesses canais. Se aparecerem novas oportunidades importantes que agreguem valor do ponto de vista de produção, nós certamente vamos olhar. Está tudo em aberto, tanto aquisições quanto novas parcerias. O grupo tem tradição em ambas operações.
DINHEIRO RURAL – Mas já há um plano de investimentos definidos?
JB – Não. Tudo ainda está sendo estudado e será conseqüência desse aprofundamento do ciclo de planejamento, que até o final do ano temos compromisso de apresentar ao conselho para aprovação. Ainda não há definição de volumes nem onde serão alocados prováveis investimentos para os próximos anos. Temos um plano de negócio básico, mas teremos que aprofundar isso em função das operações.