28/01/2016 - 11:54
Para designar ações coletivas, desenvolvidas por pessoas que visam ao bem comum, a palavra empoderamento tem sido muito utilizada nos últimos anos. Mas, o conceito (empowerment, em inglês) não é tão novo como parece. E ele foi criado pelos movimentos de direitos civis nos Estados Unidos, nos anos 1970. Não por acaso, foi nesta mesma época que nasceu no Brasil, no interior do Paraná, numa região atrasada social e economicamente, a Cooperativa dos Agricultores de Campo Mourão, a Coamo, hoje uma instituição composta por 6,7 mil agricultores que cultivam cerca de quatro milhões de hectares de grãos, algodão e café. Em quatro décadas e meia, o poder exercido por esse grupo transformou a cooperativa na maior instituição econômica paranaense e na 27ª maior exportadora do Brasil, com 5,5 milhões de toneladas de produtos vendidos no exterior. No ano passado, a Coamo faturou R$ 8,6 bilhões, praticamente o dobro da receita de cinco anos atrás. A sobra de caixa, distribuída anualmente entre os cooperados, de acordo com o equivalente em produtos agrícolas entregues, foi de R$ 258 milhões, valor 11% acima do apurado em 2013. “Quando criamos a cooperativa sabíamos que era preciso confiar um no outro”, diz José Aroldo Gallassini, presidente da entidade há 40 anos. “Somos uma instituição forte porque construímos uma relação de honestidade entre os cooperados, de credibilidade e de propósito para os nossos atos.” Pelo desempenho de 2014, a Coamo ficou em primeiro lugar na categoria COOPERATIVA no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2015. O posto foi obtido pela soma de pontos nos quesitos GESTÃO CORPORATIVA e GESTÃO FINANCEIRA.
Reuniões: para prestar conta dos investimentos e discutir ações futuras, a Coamo organiza diversos encontros com os associados
Os cooperados da Coamo estão espalhados por 67 municípios, dos quais 55 localizados no Paraná, sete em Mato Grosso do Sul e cinco em Santa Catarina. A cooperativa cresceu organicamente e também, ao longo dos anos, comprando outras dez cooperativas que se encontravam em situação financeira ruim. Para prestar conta dos investimentos e discutir ações futuras, Gallassini cumpre uma maratona de reuniões com os associados da Coamo, que acontecem duas vezes por ano. São 39 encontros em janeiro e 39 em julho, que não fazem parte das assembleias gerais, mas chegam a juntar até 500 produtores, por evento. “Corremos contra o tempo porque pode acontecer até quatro reuniões em um mesmo dia, com duração mínima de pelo menos duas horas”, diz o presidente. “Esses encontros são necessários para discutimos o nosso futuro.”
Foi em reuniões como essas, por exemplo, que a Coamo decidiu abrir unidades cooperadas em Mato Grosso do Sul há uma década. “Muitos associados estavam indo para o Centro-Oeste. Nossa presença na região era necessária para não perdemos o vínculo e também porque era uma oportunidade de negócio para a cooperativa”, diz Gallassini. Do lado dos agricultores a decisão também se mostrou acertada. De acordo com o presidente, o maior cooperado em Mato Grosso do Sul, recebeu na safra passada R$ 3 milhões, vindos da sobra de caixa. “É um dinheiro que entra limpo no bolso do produtor, porque ele foi eficiente na lavoura”, afirma Gallassini. O mais novo investimento no Estado ocorreu em meados deste ano, quando os cooperados decidiram aplicar R$ 500 milhões no município de Dourados. Será construída uma segunda esmagadora de soja, capaz de processar três mil toneladas do grão, por hora, a mesma capacidade da unidade localizada em Campo Mourão. Um segundo investimento para construir uma refinaria de óleo e fabricação de margarina em Dourados já está nos planos da Coamo. Em outros seis municípios sul-mato-grossenses, a cooperativa mantém 12 unidades, entre silos e galpões para a armazenagem de grãos, lojas de produtos e insumos agrícolas e escritórios administrativos de apoio aos cooperados.
Atuação: entre os produtos fabricados pela cooperativa, destaque para o segmento alimentício, que conta com a linha de trigo, café e óleo
Nos três Estados em que atua, a cooperativa possui um total de 120 postos de recebimento de commodities para abastecer as duas esmagadoras que produzem farelo de soja e óleo bruto, mais uma refinaria, uma fábrica de gordura e outra de margarina, duas fiações de algodão, uma torrefação de café e dois moinhos de trigo. A Coamo também mantém 60 lojas de vendas de alimentos. No dia 28 de novembro, data de comemoração dos 45 anos de fundação da cooperativa, em cada uma das lojas havia um grande bolo de aniversário, como ocorre todo ano. “É tradição comemorar, porque esses locais funcionam como polos catalisadores do que é o espírito da cooperativa”, afirma Gallassini. “Os produtores também levam para suas propriedades insumos agrícolas, como adubo, sementes e herbicidas.”
O suporte financeiro aos produtores é realizado através da Cooperativa de Crédito Rural Coamo (Credicoamo), criada em 1989 e que hoje possui 12 mil associados, entre os cooperados. Em 2014, a receita do banco foi de R$ 159 milhões, volume 46% superior a 2013. Com ativos de R$ 1,49 bilhão, as sobras totalizaram R$ 62 milhões, dos quais quase R$ 20 milhões foram distribuídos. “O banco nos dá segurança”, diz Gallassini. “E assim há mais tempo para pensar na lavoura.”
No campo, a cooperativa montou uma equipe de 260 engenheiros agrônomos para atuarem diretamente nas lavouras, dando suporte aos produtores. Do total cultivado, a soja ocupa dois milhões de hectares. O milho safrinha, em ano de boa cotação, entra em parte da área. Na safra passada foram 500 mil hectares e, nesta, a previsão é de 350 mil. Ainda são cultivados 50 mil hectares de café e 11 mil hectares de trigo. “A revolução no campo foi provocada pela soja, um grão que, quando a cooperativa foi fundada, era cozido e dado como comida para engordar porcos”, diz Gallassini. A cooperativa, que é dona de uma fazenda experimental de 170 hectares, desde 1975, desenvolve pesquisas para elevar a produtividade de sua principal commodity. Nesse tempo, a produção da oleaginosa saltou de 1,7 mil quilos sacas por hectare, para até 3,6 mil quilos com certa facilidade. Produtores que utilizam mais tecnologia já conseguem passar de seis mil quilos, o dobro da média nacional.