01/12/2011 - 0:00
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, depois da Índia e da China, com mais de 41 milhões de toneladas em 2010, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf). No entanto, o tratamento fitossanitário dessas frutas, quando destinadas para a exportação, deixa a desejar. Não por falta de investimentos por parte da indústria ou de conhecimento tecnológico, mas por inexistência de acordos comerciais específicos que deveriam ser firmados pelo governo brasileiro com os países importadores. Com isso, embora o tratamento por irradiação com ondas eletromagnéticas, um método que aumenta a vida útil pós-colheita, ao eliminar cerca de 90% de fungos e bactérias, tenha sido autorizado pelo Ministério da Agricultura, ainda no início deste ano, na prática ele tem sido de pouca serventia para os produtores nacionais, que ficam sem acesso aos principais mercados lá fora. “O País está perdendo participação, principalmente para o México, a Austrália, a Tailândia e a Índia”, diz Júlio Marcos Melges Walder, pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq- USP), de Piracicaba (SP). Segundo ele, esses países vendem suas frutas irradiadas in natura no mercado americano desde 2007. “Os Estados Unidos são os maiores importadores e estamos fora desse filão”, diz Walder, que estuda o controle de pragas e a conservação de alimentos desde 1970.
De acordo com o pesquisador, com a utilização do processo de irradiação – realizado antes da fase de maturação –, a durabilidade das frutas pode dobrar, permitindo o transporte por navio, que substituiria o avião, empregado atualmente, reduzindo os custos com frete. “Sem contar que a dose de irradiação de cobalto 60 é muito baixa, não interfere no sabor e nos nutrientes das frutas e não faz mal à saúde”, afirma Walder.
Antenado: Walder, da Esalq-USP, pesquisa o controle de pragas e a conservação de alimentos desde 1970
O acordo comercial mais importante que falta ao Brasil é o Equivalency Work Plan, instrumento que os Estados Unidos mantêm com seus atuais fornecedores e que determina os requisitos necessários para permitir o comércio bilateral de produtos tratados com irradiação. Enquanto o acordo não sai, o País deixa de embarcar frutas com boa aceitação no Exterior, como manga, goiaba, citrus e mamão papaia. Atualmente, esses são os principais produtos irradiados que vão parar nas gôndolas dos supermercados americanos. Poderia, também, embarcar frutas e hortaliças para o Canadá, a Malásia, a Europa e a Ásia, outros possíveis destinos para os produtos brasileiros. Em 2010, o País exportou 759,4 mil toneladas de frutas, no valor de US$ 610 milhões.
De acordo com o pesquisador Walder, algumas empresas dispostas a investir em unidades irradiadoras participaram das negociações com o governo federal, ao lado da Esalq e dos produtores de frutas, para a legalização da irradiação como tratamento fitossanitário, uma história que durou uma década. Além do barateamento do frete, o potencial produtivo brasileiro é o principal atrativo para os grandes produtores e investidores. “Ao contrário do México, por exemplo, um país que vende muita fruta aos Estados Unidos, o Brasil produz durante todo o ano”, diz Arthur Cillo, gerente de projeto da Gamma, empresa que já possui terreno, em Feira de Santana, na Bahia, para construir uma unidade irradiadora de frutas.
De acordo com Walder, há outra empresa que planeja se instalar na região, no Vale do Rio São Francisco. “Essa região é forte na produção de manga, mas não adianta investir se não há acordo para exportar.”
No caso da Gamma, o projeto de construção de uma unidade irradiadora, pronto há seis anos, está orçado em R$ 27 milhões. Esse foi o período que a empresa levou para adquirir a licença da Comissão Nacional de Energia Nuclear, do governo federal, para a fabricação da máquina irradiadora. Atualmente, o departamento de Proteção de Plantas do Mapa está tentando formalizar o acordo bilateral com os americanos. Nesse sentido, já houve encontros com representantes do USDA, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, por meio do Aphis, o Animal and Plant Health Inspection Service. “Eles estão interessados em comprar também caqui, maçã, banana e abacaxi irradiados do Brasil”, diz Carlos Franz, coordenador do departamento.