30/04/2023 - 8:50
Um áudio enviado por um conselheiro da empresa ucraniana Antonov ao consultor brasileiro que conversou com o secretário de Negócios Internacionais de São Paulo, Lucas Ferraz, indica que a fabricante de aeronaves avaliou que não havia interesse do Executivo paulista em celebrar parceria para investimentos no Estado.
Na gravação obtida pelo jornal O Estado de S. Paulo, Oleksandr Nykonenko, que foi embaixador da Ucrânia no Brasil, diz ser “inconcebível” e “incompreensível” que o governo de São Paulo tenha exigido que a Antonov formalizasse a aproximação com o Palácio dos Bandeirantes por meio de uma carta-convite.
Na semana passada, o caso gerou tensão entre a gestão de Tarcísio de Freitas e o governo Luiz Inácio Lula da Silva, após comunicado da Secretaria de Negócios Internacionais indicar que a negociação teria sido travada por declarações do petista sobre a guerra na Ucrânia.
“Segundo a lógica, é a parte brasileira que deveria estar interessada em atrair os investimentos. Para mim é inconcebível, incompreensível, porque nós temos que enviar uma nota solicitando audiência com o senhor governador”, afirma Nykonenko no áudio. “Se o senhor tem acesso ao senhor governador, pode lhe explicar que eu, o primeiro embaixador da Ucrânia no Brasil, está disposto a falar com o governador por telefone e lhe explicar quais são as intenções da parte ucraniana para receber esse convite formal. Porque o convite mesmo não vale nada. O que vale é o interesse. Segundo as suas ações (do governo de São Paulo) eu vejo que não há interesse por parte do governo”, continua. “Me parece que são pouco producentes essas manipulações.”
Reunião
Pessoas ligadas ao governo que estavam na reunião, porém, afirmaram reservadamente que o Executivo paulista não exigiu convite oficial da Antonov, mas uma segunda reunião em vídeo.
O jornal O Estado de S. Paulo teve acesso à ata da reunião assinada pelos consultores que procuraram o Executivo estadual em nome da Antonov.
O texto mostra que o governo sugeriu uma conversa em vídeo com executivos da Antonov State Company para “alinhar expectativas”.
A ata, feita após a reunião, foi pedida por Ferraz. O governo não chegou a formalizar o pedido por meio de uma carta.
Técnicos da secretaria teriam entendido que o primeiro encontro havia sido uma conversa inicial e o secretário solicitou uma reunião virtual com os diretores da companhia para seguir com as tratativas.
A ata com a solicitação foi oficializada por um dos consultores e encaminhada por e-mail para técnicos da secretaria e executivos da Antonov.
A reportagem teve acesso aos e-mails encaminhados pelos executivos. Neles, os consultores apresentaram valores de investimento para fabricação de aviões no Brasil na casa dos R$ 50 bilhões.
Na ata, os advogados Eduardo Kuntz e o consultor Alexandre Maia destacam o interesse do governo nas “tratativas bilaterais de cooperação” e afirmam à empresa que eles serão bem-vindos para consolidação das negociações iniciais.
“De forma a registrar a formalização de que as negociações são frutíferas e seguir na agenda estratégica oficial, ficamos alinhados em fornecer tais respostas, juntamente com outras que julgarem pertinentes, por meio de videoconferência organizada entre nós, executivos do board da Antonov e membros do governo do Estado de São Paulo”, diz o documento.
O novo encontro, no entanto, foi travado após e-mail enviado por Maia afirmar que a empresa suspenderia as tratativas por causa de declarações de Lula sobre a invasão da Ucrânia. O presidente havia dito que “a decisão da guerra foi tomada por dois países” e acusou os EUA de incentivar o conflito. O petista mudou o posicionamento.
Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo, a negociação causou atritos entre Tarcísio e Lula, que se falaram duas vezes por telefone para tratar do assunto. A estatal ucraniana primeiro disse que “informações incorretas” estavam sendo espalhadas e que não tinha representante no Brasil.
Integrantes do governo federal acusaram o Executivo paulista de compartilhar notícias falsas. Depois, em nota à CNN Brasil, a Antonov recuou e disse haver “conversas preliminares” no Brasil.
O jornal O Estado de S. Paulo entrou em contato com a empresa, mas não houve resposta. Maia também não respondeu, assim como as secretarias de Comunicação e Negócios Internacionais.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.